“Com o aumento dos profissionais a trabalhar na área, a exigência e a componente de formação profissional tornaram-se fatores indissociáveis”, Paulo Caiado, Presidente da APEMIP

Paulo Caiado, Presidente da APEMIP

Paulo Caiado assumiu este ano a liderança da APEMIP – Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal e é um dos grandes defensores da profissionalização da atividade, acreditando que deve existir uma formação dos mediadores à altura dos clientes que estão cada vez mais exigentes e informados.

Em entrevista ao Brainsre News Portugal, o atual presidente da APEMIP explica quais as principais prioridades e objetivos da associação, bem como o papel do agente imobiliário num mercado que se tornou cada vez mais digital.

Tendo assumido há poucos meses o cargo de Presidente da APEMIP, o que urge mudar na associação e que estratégias implementou nesse sentido?

A Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) tem uma presença muito importante e é voz ativa no setor, principalmente num momento em que a exigência dos clientes aumenta. A atual direção da APEMIP tem elementos com diferentes experiências e vivências e ligados a diferentes modelos de negócio, o que permite que consigamos conquistar mais proximidade com a atividade imobiliária e com os nossos associados.

Além do rebranding da Associação e forte aposta nos canais digitais, através de uma comunicação mais moderna, um dos nossos principais objetivos passa por garantir que a profissionalização do setor seja cada vez mais uma realidade, através de uma oferta formativa atual e adequada às necessidades e expectativas dos profissionais do setor.

Outra das atuais prioridades da Associação é o lançamento de um portal imobiliário de referência, baseado no rigor e transparência. Neste âmbito, em 2022, pretendemos atualizar o portal CasaYES, de modo a corresponder às atuais necessidades do setor e das empresas que pretendem divulgar imóveis online.

Em que medida o papel do agente imobiliário deve ser mais profissional e como se pode lutar pela profissionalização do acesso à atividade?

Com o aumento dos profissionais a trabalhar na área, a exigência e a componente de formação profissional tornaram-se fatores indissociáveis. Os clientes estão cada vez mais informados e exigentes, por isso é relevante ter uma formação à altura para que os mediadores consigam responder às suas necessidades.

Se por um lado a APEMIP considera essencial a profissionalização da atividade através de normativos legais que estabeleçam alguns requisitos no acesso à atividade, por outro, não ficaremos tranquilamente a aguardar.

Neste âmbito, recentemente lançamos na Academia APEMIP a formação API (Acesso à Profissão de Agente Imobiliário), que pretende enriquecer os formandos com as melhores práticas do sector imobiliário através do conhecimento do código deontológico e da Lei da Mediação Imobiliária. Em 2022, vamos lançar mais formações, nomeadamente no âmbito da sustentabilidade e análise de mercado. Um profissional de uma boa empresa de mediação imobiliária deverá ter um conhecimento exaustivo do mercado, ou seja, saber os números específicos da região onde opera, os dados de venda, características, que tipos de imóveis têm sido vendidos, entre outros.

Com vários consultores imobiliários a desenvolver a sua atividade em nome individual, como deveria ser regulado o setor?

A Mediação Imobiliária, pela relevância do tipo de negócio que promove, tem de ser realizada através de empresas que cada vez mais têm de estar “munidas” dos recursos indispensáveis para que uma transação imobiliária decorra de modo seguro, transparente e responsável.

Com um mercado cada vez mais digital, qual o papel do agente imobiliário?

As empresas estão a ser alvo de reinvenção, porque as necessidades das pessoas agora são diferentes. Acredito que vamos também verificar uma multiplicação de soluções de novos modelos.

No domínio comunicacional, os mediadores devem estar tecnologicamente capazes e conhecer os novos canais comunicacionais, no âmbito da revolução digital. A tecnologia incrementa a eficiência comunicacional. Neste sentido, uma boa utilização dos canais comunicacionais – em termos de estratégia, criação de conteúdo, análise de resultados, entre outos – é fundamental para o sucesso do serviço que presta o mediador, para cultivar relacionamentos e para o êxito na divulgação dos imóveis que promove.

No entanto, por outro lado, não é sustentável para a mediação imobiliária modelos de negócio demasiado automatizados e que substituam as pessoas. É preciso aliar o uso de inovadoras ferramentas tecnológicas com o fator humano, principalmente através da aposta na interdisciplinaridade, formação e diversidade das pessoas.

Num ano vivido com alguma incerteza na maioria das atividades económicas, como explica o considerável aumento de empresas no setor imobiliário?

Segundo os dados recolhidos e analisados pelo Gabinete de Estudos da APEMIP, em Portugal, em novembro de 2021, contabilizam-se 8.249 empresas em atividade, um aumento de 14% quando comparado com novembro de 2020. Quando falamos em termos distritais, Lisboa apresenta-se como o distrito com maior representatividade, com 2.638 empresas em atividade, seguindo-se o Porto, que assinala 1.333 empresas.

Este crescimento deve-se à aposta de muitos num setor que tem demonstrado grande solidez e perspetivas de crescimento, claro que talvez não haja lugar de relevância para todos, mas isso é algo que será demonstrado pelos clientes.

Existindo uma enorme procura e escassez de oferta na habitação, o que perspetiva para 2022?

A tendência é que 2022 continue a ser um ano de crescimento significativo no mercado imobiliário. O mercado imobiliário nacional mostrou ser extremamente resistente, porque não evidenciou nenhuma quebra de valor significativa.

A já anunciada continuação das baixas taxas de juro, algumas expectativas positivas relativamente à evolução da pandemia e a perspetiva de fluxos de procura superiores aos da oferta, deixam-nos confiantes de que os preços globalmente deverão continuar numa linha de crescimento.