“Portugal, a Califórnia da Europa” – Chitra Stern, CEO Elegant Group

De nacionalidade britânica, mas oriunda de Singapura e de descendência indiana, Chitra Stern juntamente com o seu marido, é CEO do “Elegant Group”, uma empresa com uma vasta experiência na criação e gestão de ativos imobiliários nos seus diversos setores, desde a hotelaria à educação, passando pela habitação, comércio e a área de serviços.

Chitra casou em Londres com Roman, um suíço de Zurique e no ano seguinte, ambos chegaram a Portugal à procura de oportunidades de negócio, em 2001. Nessa época, as oportunidades encontravam-se na hotelaria e no imobiliário e foi nessa altura que compraram uma casa em Lagos e trocaram Londres pelo Algarve.

Muito cedo, ambos perceberam que para os “estrangeiros”, Portugal era um país ainda por descobrir na Europa Ocidental, mas que era também um fantástico destino para o turismo. Assim iniciaram o seu percurso empresarial, com a criação de uma série de luxuosos resorts espalhados um pouco pelo país, com a criação das “Martinhal Residences”, até ao primeiro investimento em escritórios que surgiu recentemente com a construção, quase por medida, do novo edifício Ageas, no Parque das Nações, por último na área da educação, Chitra Stern e Roman Stern, apostaram no United Lisbon Internacional School e no Edu Hub Lisbon.

Em entrevista ao Brains re News Portugal, Chitra Stern explica como foi este percurso desde a chegada a Portugal.

Porque escolheu Portugal para investir há 20 anos atrás?

Em 2001 mudámo-nos para Portugal à procura de um nicho de negócio. Quando penso porque nos mudámos para este país, lembro que nessa altura as oportunidades de negócio estavam centradas na hotelaria e no imobiliário, Portugal era membro da união europeia já há 15 anos e por isso estavam a entrar fundos comunitários, que ligavam o norte ao sul, o este ao oeste, estavam a ser construídas novas autoestradas, aeroportos aumentavam a sua capacidade, bem como o número de ligações para dentro e fora do país. Para um público estrangeiro, Portugal era o país ainda por descobrir na Europa Ocidental, mas rapidamente deparámo-nos com um fantástico destino turístico. Foi então, em 2001, que comprámos uma casa em Lagos e trocámos Londres pelo Algarve. Começámos o negócio na cave da nossa casa, inicialmente era suposto ficarmos no país durante 5 anos.

Depois destas duas décadas, pensa que começou na altura certa?

Sim, não há dúvida que Portugal é um país com enorme potencial como destino turístico. Tem restaurantes fantásticos, com chefs talentosos, uma grande oferta de hotéis de charme, imensos produtos e marcas que surgem em todo o país. Portugal é um país autêntico, moderno e europeu, mas mantém o charme do antigo e tradicional, é um país tão pequeno e com um enorme peso histórico.  Portugal está à frente na área da sustentabilidade, recentemente o país produziu a quantidade necessária de energia renovável, que possibilitava o fornecimento de energia de todo o país, motivo de grande orgulho.

Toda as pessoas sabem que é um país maravilhoso, a linha costeira é linda, existem ilhas fantásticas como a Madeira e os çores, praias de areia branca, hectares de diversas plantações e vinhas, magníficos rios e serras. Durante anos, estas características únicas fizeram com que chamasse a Portugal a “Califórnia da Europa”.

Mais recentemente, Portugal está a ser reconhecido por outros fatores, a qualidade e estilo de vida. Estamos a pouca distância de qualquer país da europa, bem como de África e estes são fatores importantes para estrangeiros que procurem mudar de país. A qualidade de vida está relacionada com conveniências e necessidades, fáceis acessos a serviços, o clima ameno durante a maior parte do ano, natureza e ar puro. Viver em Portugal é viver em segurança e com segurança.

O Governo Português também introduziu algumas iniciativas para simplificar alguns processos no que respeita a empresas de venture capital e empresas de private equity que se querem instalar em Portugal.

Como surge a ideia de setores de negócio tão diferentes, como a hotelaria e educação?

Somos investidores imobiliários. Após 6 anos de investimento em ativos hoteleiros e residenciais, decidimos diversificar os nossos interesses. Entre 2017 e 2020, trabalhei para a PORTUGAL IN – uma task force de investimento direto estrangeiro que reportava diretamente ao gabinete do Primeiro Ministro. Este foi um trabalho pro-bono e uma das primeiras coisas que fiz foi trabalhar numa análise SWOT para investimento em Portugal.

Neste “white paper” que fiz, identifiquei que um dos pontos fracos era a falta de escolas internacionais em Portugal, com especial enfoque em Lisboa, que poderiam inviabilizar algumas das estratégias que tinha em curso, para atrair empresas investidoras, tirando partido do “fluxo Brexit”, do Golden Visa, Residentes não habituais etc. Se executivos e investidores residenciais se mudassem para Lisboa, eram necessárias escolas internacionais suficientes para os filhos destes.

Também somos apaixonados pela educação para o futuro, temos 4 filhos e surpreendentemente, não havia escolas internacionais no centro de Lisboa na altura. Em 2017, fomos apresentados ao antigo edifício da Universidade Independente por uma grande imobiliária, e foi assim que começámos a pensar em fazê-lo nós próprios. Comprámos o edifício à CGD e o resto foi pura vontade de fazer acontecer e reunir a equipe certa e o investimento. Após o investimento inicial no primeiro edifício, decidimos também comprar os edifícios industriais circundantes à venda pela – A Banca, para nos permitir abordar o futuro da educação. Assim nasceu o www.eduhublisbon.com e o www.unitedlisbon.school!

Todo o Grupo Martinhal tem um especial foco nas famílias, fazendo parte do slogan do grupo. Esta projeção é baseada no seu conceito familiar?

Sim, sentimos essa necessidade do mercado depois de termos tido filhos e de nos concentrarmos na sua educação e carreira. Achamos difícil encontrar hotéis que satisfizessem os pais com o mais alto nível de qualidade e, ao mesmo tempo, tivessem instalações e serviços de excelência para as crianças.

Existe em Portugal também um fator emocional que observei ao longo dos anos e que está relacionado com as pessoas, Portugal é um país com resultados elevados no índice de paz mundial. Os portugueses recebem bem os estrangeiros, mostram a sua hospitalidade, trabalham com o coração, amam as suas crianças, apoiam e preocupam-se com elas, o que se reflete na sociedade quando estas se tornam adultos. Só podemos amar, se formos ensinados a amar e em Portugal fazem-no muito bem. Há um respeito generalizado por todas as pessoas, mas as gerações mais idosas para além de respeitadas são, acarinhadas, valorizadas, os seus aconselhamentos são tomados em consideração, é dada muita importância ao tempo de qualidade em família, promovem-se reuniões familiares das várias gerações, isto é maravilhoso. Portugal é um dos países com uma sociedade mais tolerante e liberal, em que alguma vez vivi. As pessoas aqui acolhem os que vêm de outros países com diferentes religiões, raças, crenças e recebem-nos de braços abertos e isto vale muito, especialmente nos dias de hoje. Apesar de tudo somos humanos e não robôs e precisamos sentir-nos bem-vindos onde vivemos e investimos.

Existem mais projetos em mente para o futuro?

Tendo por base o projeto “Martinhal Residences” (www.martinhalresidences.com), considero que o desafio para o futuro, pela lacuna existente, passa pela criação de projetos residenciais em Lisboa que carreguem o conceito da marca, ou seja, qualidade e serviços de excelência.

Enquanto investidora internacional, que impactos pensa que que as novas medidas dos Vistos Gold podem trazer para Portugal?

Pessoalmente, lamento ver o fim dos Golden Visa para determinadas zonas do país. No entanto, teremos os investidores focados no mercado imobiliário de grande qualidade e na diferenciação dos serviços que estes podem oferecer.

Sabemos que é um dos membros da EO (Entrepreneur’s Organization), como tomou conhecimento da organização?

Tomei conhecimento da EO através do Pedro Janela e do Miguel Santo Amaro, equipa fundadora há 4 anos da EO Portugal, que tomaram conhecimento do meu percurso profissional e me convidaram para fazer parte desta organização, convite que aceitei, tornando-me assim o primeiro membro feminino, membro nº 26!

A sua presença na EO tem-na feito aprender com outros empreendedores?

Sim, definitivamente. O contato com os outros membros da EO permitiu-me alargar os meus conhecimentos em diversos campos e de diferentes maneiras. Esta nova realidade permitiu-me assistir a fóruns, seminários e conferências dos mais diferentes temas, tais como liderança, entre outros. Podemos aceder a cursos de especialização subsidiados nas principais faculdades de gestão do mundo (INSEAD, Harvard, UC Berkely ou mesmo na London Business School) e até mesmo criar a nossa própria “networking” com mais de 15.000 empreendedores espalhados por todo o mundo.