“Crescimento do interior impulsionado pelo Covid e pelos preços imobiliários nos grandes centros?” – Hélio Dias, CEO da Terzzit Investments

Hélio Dias, CEO da Terzzit Investments

Atualmente é tema na praça pública o aumento do número de pessoas a migrar para o interior do país, ou a sair das grandes urbes. Será uma tendência dos próximos anos? O interior está preparado estruturalmente para receber este crescendo populacional? O crescimento é no interior ou simplesmente nas periferias das cidades? Será moda ou uma consequência do custo de vida e do impacto digital nos trabalhadores?

A minha opinião é que será crescente esta migração de pessoas para fora das grandes cidades. Sendo que, não será, infelizmente, para o interior puro (como Mangualde, Seia, Nisa ou outras regiões do interior) mas sim zonas periféricas até uma hora de Lisboa ou Porto. A verdade é que a pandemia e o digital alteraram o paradigma do trabalho, com cada vez mais profissões digitais e que não carecem de espaço físico ou atendimento, apenas um computador e acesso à internet. Também muitas empresas se renderam ao potencial produtivo, eficiente, do teletrabalho e sobretudo da redução de custos operacionais. Infelizmente para o interior, este não conseguirá a curto e médio prazo usufruir da maior fatia desta migração de nómadas digitais e teletrabalhadores, pois a distância a uma grande metrópole, a limitação na ferrovia e transportes rápidos é ainda um gigante calcanhar de Aquiles nestas zonas remotas. O interior é vítima da migração para as grandes cidades durante décadas e do consequente desinvestimento e abandono pelo Estado, que o deixa agora despido de escolas, transportes públicos, saúde, creches e outros equipamentos determinantes para a qualidade de vida dos que ali escolhem residir. Em suma, as pessoas não buscam o interior profundo ou periférico na sua maioria, mas sim apenas encontrar custo de vida e fundamentalmente uma casa que possam pagar, acreditando eu que este crescimento da migração vai estar sempre correlacionado com a subida e descida dos preços do imobiliário.

A solução passa por uma estratégia consertada de atração agressiva de empresas e indústria para estas regiões, com medidas de impacto significativo nas empresas (isenção de taxas, infraestruturas a preços simbólicos nos parques industriais desertos, redução de IRC mediante localização…) e, em troca, estas empresas contribuírem e participarem ativamente na solução através da criação de creches e outras infraestruturas, e daí recolher os benefícios do investimento.