“Porquê?” – João Fonseca – Perito Avaliador de Imóveis – MRICS, REV, CMVM

João Fonseca – Perito Avaliador de Imóveis – MRICS, REV, CMVM

Eu ia começar esta escrita dizendo que achava que nenhum homem é santo, quanto à questão da secundarização do papel da Mulher na sociedade. Decidi corrigir o início porque, na verdade, eu não acho, eu tenho a certeza.

A secundarização do papel da Mulher é um problema cultural que só desaparecerá por completo quanto se fizer a substituição total do “stock” existente de homens, o que só se resolverá daqui a algumas gerações. É preciso perseverar na mensagem que homens e mulheres não são iguais, são apenas diferentes. Esta mensagem tem que ser passada bem cedo, ainda antes dos bancos das escolas.

Este esforço continuo de mudança deve acontecer nas coisas mais simples, como seja a comunicação que fazemos.

Um exemplo?

A crise dos migrantes, quer seja no norte de África quer seja no Norte da Europa, quer seja, infelizmente em Portugal (encho-me de vergonha com as agressões a migrantes, recentemente conhecidas), carrega sempre para o espaço noticioso o sofrimento de gente anónima, indefesa. São frequentes os relatos de embarcações precárias que são encontradas à deriva no mar Mediterrâneo ou mesmo no mar Atlântico:

“A guarda costeira italiana contabilizou 539 passageiros, entre eles mulheres e crianças, …” – noticiava a BBC em agosto deste ano.

Corrijam-me se eu estiver errado, mas estando as mulheres em pé de igualdade com os homens, este tipo de informação não deve ser veiculado. Uma criança que esteja a ouvir isto de certeza que é uma séria candidata a interiorizar o que não deve, ou seja, uma condição inferior, de fragilidade comparativa.

Sendo este espaço dedicado ao imobiliário, talvez seja interessante identificar a presença da Mulher neste mercado.

Fui à procura de informação para as duas áreas do imobiliário onde me posiciono: a avaliação imobiliária, enquanto profissional de avaliação, e a mediação imobiliária, enquanto formador.

Recorrendo à informação disponibilizada na CMVM- Comissão do Mercado de Valores Mobiliários consegui contabilizar, “mais mulher, menos mulher”, a presença de 369 mulheres e 1157 homens peritas e peritos avaliadores de imóveis. Descontado as empresas de avaliação, podemos dizer que só um quarto do universo desta classe profissional são mulheres. Muito pouco!

Já na mediação imobiliária as coisas, felizmente, não são assim. A revista “Imobiliário em Direto”, publicada pela empresa Domínio Binário, realizou um estudo sobre os profissionais deste setor.

A primeira boa conclusão a que podemos chegar sobre a mediação imobiliária é que esta não é uma profissão associada a um género. Um inquérito que fizeram a estes técnicos revelaram um rácio igual de respostas de homens e de mulheres.

Tendo pedido à empresa para desagregar as respostas das mulheres, por faixa etária, a distribuição é a seguinte:

-6% das mulheres tinham entre 18 e 29 anos;

-23% das mulheres tinham entre 30 e 39 anos;

-39% das mulheres tinham entre 40 e 49 anos;

-28% das mulheres tinham entre 50 e 59 anos;

-4% das mulheres tinham entre 60 e 69 anos.

Estes dados vêm dar razão ao que Ricardo Reis, colunista do Expresso, partilhou na edição de 27 de novembro deste semanário, sobre as conclusões de um estudo a propósito da presença da Mulher na carreira científica:

“O primeiro resultado marcante é a diferença entre o percurso da produtividade por género. Até ao casamento, homens e mulheres são semelhantes. Mas, depois, entre os 28 e os 40 anos, a produtividade das mulheres não aumenta, enquanto que a dos homens sim. Depois, a partir dos 40, a produtividade das mulheres começa a aumentar enquanto que a dos homens estagna.”

Porquê?

A explicação para isto estará, certamente, neste excerto do belo poema de José Carlos Ary dos Santos, “Mulher”:

“Trabalho não só de parto

mas também de construção

para um filho crescer farto

para um filho crescer são”

PS: Estamos em época natalícia e eu quero confessar-vos um segredo: eu acredito no Pai Natal. Será a maior desilusão da minha vida se me provarem o contrário.

Boas Festas!