“O ano anterior não foi regra para ninguém, foi um ano de exceção” – Rui Branco, CEO da PREDIBISA

A operar no mercado do Norte, a PREDIBISA revelou no início do ano os resultados alcançados em 2021, que foram significativamente superiores ao ano anterior. O Brainsre News Portugal entrevistou Rui Branco, CEO da consultora imobiliária do Porto, que deu a conhecer como se encontram alguns segmentos do mercado imobiliário no norte do país, bem como algumas perspetivas para o futuro.

A Predibisa está há 30 anos no mercado e é uma empresa que exerce o seu trabalho nas áreas do Grande Porto e norte. Tem grandes competências no segmento residencial e no segmento de escritórios, pelo conhecimento de mercado que tem desde há muitos anos, com uma equipa muito estável que traz confiança ao mercado, assegura o responsável da consultora.

Nos últimos anos o que tem levado ao aumento da procura no segmento residencial e de escritórios na zona do Porto?

Com a consolidação da reabilitação do centro histórico foram criadas novas ARU’s que foram crescendo e o Porto tem hoje uma grande percentagem da sua área, que está dentro destas áreas de reabilitação urbana. Ao serem criadas essas áreas, as autarquias tiveram a possibilidade através do governo, de passar benefícios aos promotores que iniciassem projetos, o que criou esta dinâmica de crescimento, tal como aconteceu em Lisboa, aconteceu também no Porto. Realmente é uma nova dinâmica que levou à criação de novos empregos nesta área, embora tenha surgido a pandemia nos últimos dois anos, acredito que este ano vamos novamente retomar. O ano passado já foi um bom ano para nós e para a significativa maioria das imobiliárias que atuam em Portugal.

Muita desta dinâmica que foi criada no mercado de escritórios, onde a Predibisa tem sido líder, parou no primeiro semestre, mas a partir do segundo semestre recuperou grandemente para números anteriores. Embora não tenhamos atingido os números de 2019, A área colocada de escritórios na área do porto em 2021 foi de 56.585 m2 e a Predibisa colocou 35% dessa área. Por isso, temos bons indicadores para este ano, tanto na parte residencial, como na parte de escritórios.

Como explica um crescimento da Predibisa na ordem dos 53% em 2021, quando comparado com o ano anterior?

O ano anterior não foi regra para ninguém, foi um ano de exceção, um ano muito mau em que estivemos praticamente parados no primeiro semestre. Por isso, foi muito fácil que muitos dos projetos que estavam em pipeline e que tinham parado, como por exemplo projetos de escritórios, vieram a arrancar neste ano de 2021. E daí esse crescimento relativamente a 2020 ter sido tão expressivo, porque foi efetivamente um ano muito mau para todos. O que nos deixa tranquilos e com alguma confiança, é que estes números vieram a ser recuperados já em 2021. Em pipeline temos projetos na área do residencial, bem como novos empreendimentos de escritórios, que nos dão indicações que 2022 e 2023 serão anos que terão um crescimento na mesma linha que tínhamos desde 2019.

Quais os principais projetos que estão em desenvolvimento?

Na área residencial, estamos a comercializar alguns empreendimentos, com um volume de negócios de cerca de 60 milhões de euros, em co-exclusivo e em exclusivo. Temos o Greenstone, da Bondstone, que é o promotor que vai fazer na zona da Foz o empreendimento que estamos a lançar agora. Temos também o Bonjardim, da Avenue, que é um promotor com muito histórico no Porto e em Lisboa, é o quarteirão da antiga Casa Forte que também vai ser lançado agora e estamos a inicializar a comercialização.

Depois temos outros que serão lançados em Gaia e Matosinhos. Este ano, estamos a sentir uma expansão dos promotores na comercialização destes empreendimentos fora do Porto. O Porto tem também o problema da dimensão, porque os terrenos são finitos e os promotores procuram áreas fora, mas perto do Porto. Estamos com Gaia e Matosinhos, mas com o aumento do preço do custo da construção e dos terrenos, torna praticamente impossível a compra de uma classe média de apartamentos na zona do grande Porto, acredito que a linha de metro será a linha que irá criar a promoção imobiliária nos próximos anos. Com os preços a subir nas grandes cidades e com a procura de terrenos, essas zonas eventualmente começam a atingir preços altos. Acredito que a seguir vamos prolongar esta necessidade da criação de novos empreendimentos em zonas mais afastadas dos centros das grandes cidades, o que levará a que estas acessibilidades rápidas venham a ser muito procuradas. Esta procura e esta descentralização vai continuar, vai expandir-se e será cada vez maior.

Que alterações sentiu existirem nos últimos dois anos, nos vários segmentos de mercado?

Os próprios modelos dos novos empreendimentos são também diferentes, um modelo que privilegia as áreas exteriores, varandas e jardins. Estes são projetos que necessitam de áreas comuns maiores, que são assim mais fáceis de conseguir fora das grandes cidades. Neste caso o Porto, que está colocado entre Gondomar, Matosinhos, Maia e Gaia, por isso geograficamente não tem por onde crescer.

Quanto às empresas, as áreas que procuravam não diminuíram, mas foram remodelados os espaços, agora com outras valências, nomeadamente na possibilidade da abertura de áreas exteriores. A área alocada a cada trabalhador quase que duplicou porque existem menos colaboradores a trabalharem presencialmente nos escritórios, e provavelmente será esse o caminho no futuro.

O que perspetiva para um futuro a médio e longo prazo no mercado imobiliário do norte do país?

Esta descentralização de que falei pode trazer oportunidades a cidades como Vila do Conde, Trofa, Famalicão, desde que esta rede de transportes seja bem discutida, pois não sei qual será o investimento previsto. Existe uma oportunidade de crescimento destas cidades, com esta interligação entre elas com comboios, que deverá ser a solução mais lógica e também mais ecológica. Temos a universidade do Minho, a do Porto e a de Aveiro e temos que pensar nesta “massa cinzenta” que por aqui circula, temos que criar a possibilidade de aqui se fixarem. São essas pessoas que vão gerar futuramente a compra dos apartamentos e esses é que vão mexer com o mercado.