Portugal poderá vir a ser o hub de “reshoring” da Europa

O mercado português pode beneficiar do posicionamento geográfico entre a Europa e os Estados Unidos.

De acordo com o estudo mais recente da JLL – “Supply Chain Disruptions”, os negócios estão a transferir os seus postos de produção para os países de origem das empresas (Reshoring), de modo a salvaguardarem os seus stocks. Devido ao posicionamento geográfico do mercado português entre a Europa e os Estados Unidos, o mesmo pode beneficiar com o “Reshoring” praticado pelos negócios.

É na região de EMEA, que integra a Europa, o Médio Oriente e a África, que as empresas europeias observam alternativas à produção e abastecimento na Ucrânia e na ásia, após os meses de interrupção da cadeia de abastecimento. Já são várias as empresas do setor do retalho e manufatura que optaram por realocar parte ou toda a sua produção. Os dados do estudo revelam que a Europa Central e a Roménia são os novos beneficiários europeus do “reshoring”, sendo que as fronteiras europeias da Turquia e Marrocos estão também à vista destas empresas.

A tendência do “Reshoring” surge após a pandemia Covid-19, que causou uma quebra nas redes de distribuição e um estrangulamento nos aeroportos e portos, pelo que as empresas tiveram de procurar soluções face às interrupções nas cadeias de abastecimento.

As responsáveis pelas áreas de ocupação e investimento em Industrial & Logística em Portugal, preveem que as alterações nas estratégias das empresas, ao realocar os seus postos de produção e distribuição para junto do consumidor europeu, podem beneficiar o mercado português, nomeadamente o imobiliário deste segmento, que pode registar um aumento de procura para ocupação e investimento, uma vez que dispõe do posicionamento geográfico estratégico na ligação entre o continente europeu e o continente americano.

Segundo Marlene Tavares, Head of Retail & Logistics Investment da JLL, “a discussão sobre o nearshoring (quando as operações são movidas para um país próximo ao de origem, por oposição ao offshoring) não é recente. O aumento dos salários em localizações de produção de baixo custo e o crescente risco devido às alterações climáticas, greves e acidentes, como o bloqueio do Canal do Suez, alimentaram o debate sobre esta questão na última década. Contudo, uma relação custo/risco mais favorável e o facto de se terem perdido muitas infraestruturas de produção na Europa, continuaram a garantir ao continente asiático a vantagem para a localização dos grandes hubs de distribuição e produção de uma vasta gama de produtos. Este cenário está agora a mudar, devido à recente conjuntura e também pelos novos hábitos de consumo. Neste contexto Portugal apresenta vantagens competitivas, ligadas ao seu posicionamento geográfico e demografia muito aliciantes que nos colocam numa posição de destaque na estratégia europeia de nearshoring.”

Já Mariana Rosa, Head of Leasing Markets Advisory da JLL, afirma que “naturalmente, dois anos de uma pandemia global, seguidos do conflito Rússia-Ucrânia, têm consequências. Com toda a interrupção de abastecimento que estas duas situações causaram, as empresas perceberam que precisam de diversificar a produção para manter bons níveis de stock nos mercados europeus. Além disso, este estudo mostra que o cenário atual continua a ser de perturbações na cadeia de abastecimento e que esta é uma tendência que se manterá”.