Venda de carteiras de crédito malparado deverá cair mais de 40%

A perda de ritmo na venda de carteiras de crédito malparado foi acompanhada por uma redução bastante mais lenta do volume de NPL no sistema financeiro português.

O investimento em carteiras de crédito malparado (NPL – Non-Performing Loans) deverá travar significativamente este ano, prevendo-se que a venda de portefólios deste tipo de ativos ascenda a 1.7 mil milhões de euros. Os dados são revelados pela consultora Prime Yield no seu mais recente estudo sobre este mercado na Ibéria “Investing in NPL in Iberia 2022”

Este volume apresenta uma descida de 44% comparativamente com os 3.0 mil milhões de euros transacionados no ano anterior, ano em que a atividade recuperou após a travagem de 2020, quando as transações não foram além dos 1.0 mil milhões de euros, refletindo o impacto da pandemia.

Segundo Nelson Rêgo, CEO da Prime Yield, “os valores agora apurados contrariam bastante as estimativas que tínhamos no início do ano, as quais apontavam para a continuação da retoma da atividade para os níveis pré-Covid, cujos padrões se situavam entre os €6.5 mil milhões e os €8.0 mil milhões anuais. Mas, na realidade, já vimos que a conjuntura tem, a capacidade de se alterar de forma muito rápida e, também neste mercado surgiram alguns fatores que, conjugados, acabaram por resultar num arrefecimento da atividade transacional”.

Para a consultora, este abrandamento de ritmo face a 2021, deve-se a três fatores. Se por um lado, as carteiras que estão ativas no mercado são de menor dimensão do que antes, afetando o volume global transacionado. O volume de vendas de 2021 reflete a negociação de 13 portefólios, enquanto 2022, apesar da quebra assinalável no montante, sinaliza um número semelhante de operações (11).

Por outro lado, há uma efetiva redução do número de carteiras a surgir no mercado, pois não só o stock de malparado não aumentou, como se observou a entrada de vários servicers no mercado, os quais atuam numa fase prévia da recuperação do crédito, limitando as carteiras que chegam ao mercado para investimento final.

Em terceiro lugar, continua a existir um desencontro forte nas expetativas de preço entre vendedores e compradores. A Banca tem hoje menor pressão para vender, tentando obter melhor preço pelos portfólios. Já os investidores mostram-se menos abertos a pagar mais, daí decorrendo um desajuste de preços e uma maior demora na concretização dos negócios.

De acordo com Nelson Rêgo, “Portugal continua a apresentar excelentes oportunidades e o fluxo de carteiras a surgir no mercado vai continuar, especialmente ao longo de 2023. A conjuntura económica marcada por uma elevada inflação e o aumento das taxas de juro deverá ter impacto no crescimento do crédito malparado, embora a próxima onda de carteiras em incumprimento deva surgir apenas no final de 2023 e no ano seguinte. Numa primeira fase, oincumprimento deverá afetar mais o segmento de empresas, especialmente as PMEs, e numa segunda fase o crédito às famílias, nomeadamente no âmbito do financiamento para aquisição de habitação”.

A perda de ritmo na venda de carteiras de crédito malparado foi acompanhada por uma redução bastante mais lenta do volume de NPL no sistema financeiro português. No 2º trimestre deste ano, Portugal contabilizava 7.5 mil milhões de euros de crédito em incumprimento nos Bancos nacionais, um montante que corresponde a 3,3% do crédito total concedido no país. Este volume fica apenas 200 milhões abaixo do final do ano anterior, mas reduz em 1.3 mil milhões face aos 8.8 mil milhões contabilizados no mesmo período do ano passado.

Portugal é o país com o décimo maior volume de NPL, no contexto europeu, contudo possui um stock bastante inferior ao dos líderes França, que detém cerca de 109.7 mil milhões, de Espanha, com 78.9 mil milhões, ou de Itália, onde ainda permanecem 51.8 mil milhões. Para mais, o crédito malparado no sistema financeiro português equivale atualmente a um terço do registado há três anos, quando o stock ascendia a 21.3 mil milhões.

Em termos do NPL atual, as empresas representam a maior fatia, nomeadamente 64% do stock contabilizado no país, o equivalente a 4.8 mil milhões. Deste volume, 73% está concentrado nas PME’s (3.5 mil milhões), sendo que 42% do crédito malparado às empresas está garantido por imobiliário corporativo, no valor de 2.0 mil milhões. O segmento das famílias contabiliza 2.7 mil milhões em malparado, o que representa 36% do stock total. Deste valor, €1.1 mil milhões diz respeito a crédito à habitação.

A consultora Prime Yield lança anualmente o relatório” Investing in NPL in Iberia”, onde estima o potencial de transação de crédito malparado em Portugal e Espanha. O presente estudo apresenta um balanço da atividade transacional de NPL em 2022, além de analisar o stock e rácio deste tipo de crédito no respetivo sistema financeiro, disponibilizando ainda um olhar sobre a economia e o mercado imobiliário.