A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia. No mundo em geral, a invasão russa já está a criar impacto no que respeita a questões políticas, sociais e económicas. O mercado financeiro também sai prejudicado, numa época em que nenhum setor económico escapa ao conflito bélico. E como pode esta oposição entre os dois países afetar o mercado turístico nacional?
O turismo desejava alcançar um impacto positivo no pós-pandemia, embora ainda não tenhamos alcançado esse momento e a continuação de muitas restrições relacionadas ao Covid-19 ainda estão ainda em vigor, todos os indicadores apontam para uma recuperação da indústria, que aparentemente não se deixará ir abaixo com este conflito que se vive na europa. Após estes dois anos, o setor do turismo soube o que é viver sob a incerteza dos acontecimentos e mesmo que a resolução da guerra pareça longe de estar resolvida, a indústria do turismo espera atingir novamente a sua plenitude de taxa ocupacional em épocas como a Páscoa e o Verão. Ainda ontem, o Instituto Nacional de Estatística publicou dados sobre a atividade turística em Portugal, em que entre janeiro e fevereiro deste ano, se apurou um aumento de 322,4% das dormidas totais (+168,3% nos residentes e +597,9% nos não residentes). Embora os níveis atingidos, no período em análise, sejam inferiores aos apurados em fevereiro de 2020, quando ainda não se faziam sentir os efeitos da pandemia, já era expectável que em 2022 estes valores sofressem um aumento significativo.
Começam a surgir evidentes sinais de retoma no turismo, com a pandemia sob controlo, após quase dois anos de uma paralisação parcial. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia podem criar alguma incerteza no setor em quase toda a Europa, mas em Portugal o efeito pode ser contrário. O nosso país, “um jardim à beira-mar plantado” como escreveu Tomás Ribeiro (1831-1901), pode jogar a seu favor por esse mesmo motivo. A localização geográfica de Portugal pode vingar no momento de escolha de um destino europeu, sendo um país que se situa na outra ponta da Europa e longe do conflito armado, será visto como uma boa alternativa.
O país pode também beneficiar pelo facto de alguns destinos que competem com Portugal, virem a perder turistas devido à proximidade do conflito, como é o caso da Eslováquia, Croácia e Estónia. Esta mesma distância e o facto de Portugal ser considerado o terceiro país mais seguro do mundo são fatores que transmitem confiança aos turistas estrangeiros.
Portugal é ainda um país seguro e é grande o sentimento de segurança vivenciado pela comunidade turística que nos visita, quando comparado com a generalidade dos países, mesmo no seio da Europa. Um país com um clima ameno, paisagem diversificada, desde as praias às planícies alentejanas, a história, a cultura, a gastronomia, o clima, os vinhos, a segurança e acima de tudo a simpatia dos portugueses são alguns dos principais motivos e requisitos para os turistas, mesmo em tempos de guerra.
Segundo os dados do INE, no mês de fevereiro, o mercado britânico predominou (17,8% do total de dormidas de não residentes), seguindo-se os mercados alemão (quota de 11,5%) e espanhol (11,4%). Mercados que já nos habituaram a estar no topo do ranking e que provavelmente irão continuar, mesmo com as atuais circunstâncias.
Contudo, neste jardim à beira-mar plantado, nem tudo é um mar de rosas e o medo que se instalou na europa, com o impacto da guerra na Ucrânia levou a um expressivo aumento na inflação. Dados, também ontem avançados pelo INE, indicam uma subida de 5,3% em Março, o valor mais alto desde 1994, onde os combustíveis e alimentos contribuem de forma expressiva para o aumento dos preços. A subida dos valores dos produtos básicos e bens alimentares, do gás e dos combustíveis, pode influenciar numa menor predisposição para despender de dinheiro para férias e viagens. Além de que o aumento do custo médio de vida poderá levar a uma subida das tarifas nos hotéis e das refeições nos restaurantes.
Mesmo assim, os hotéis foram o segmento que mais se fez notar durante este mês de março, com vários e importantes investimentos para novos projetos de norte a sul do país, bem como inaugurações de novas unidades hoteleiras, o que claramente e mais uma vez é demonstrativo da resiliência desta indústria.