Turismo & Arquitetura: Uma relação win-win

Portugal é um dos países Europeus com maior contributo do turismo para o PIB.

O turismo é um sector fundamental, sendo um grande gerador de riqueza e emprego para o país. Segundo o relatório do World Travel & Tourism Council, Portugal é um dos países Europeus com maior contributo do turismo para o PIB, com uma percentagem de 17,1% (2019), sendo que quase 21% dos postos de trabalho existentes estão diretamente relacionados com o sector.

De acordo com o Turismo de Portugal, entre 2010 e 2019, o turismo teve um crescimento médio anual de 7,2% nas dormidas, representando um aumento de 37 milhões em 2010 para 70 milhões de dormidas em 2019. No mesmo intervalo, as receitas do turismo nacional aumentaram 142%, de 7,6 mil milhões de euros para 18,4 mil milhões de euros. Após o ano atípico de 2020, devido à pandemia global Covid-19, 2021 representou uma recuperação de 40% a nível de dormidas face ao período homólogo. De acordo com os dados do INE, até novembro, o número de dormidas no país em alojamentos turísticos foi de quase 35 milhões.

Portugal tem vindo a demonstrar-se um país com uma forte atração turística a nível internacional. O país foi eleito pelo quarto ano consecutivo como melhor destino turístico da Europa nos World Travel Awards (WTA) 2020. Além deste reconhecimento, Portugal recebeu mais 20 prémios na mesma edição dos WTA, com destaque para os galardões atribuídos ao Porto, que conquistou o prémio de melhor destino city break da Europa; Lisboa, que foi considerada o melhor destino europeu de cruzeiros; e Algarve como melhor destino de praia da Europa.

Qual será a razão para Portugal ser merecedor de tal reconhecimento?

Para além do clima mediterrâneo, as praias e a gastronomia, é inegável a riqueza arquitetónica e cultural que o país nos oferece. Portugal possui uma variedade de estilos arquitetónicos, desde o património cultural histórico à arquitetura contemporânea. A sua coleção de arquitetura icónica (características associadas como a sua estética original, simbolismo, poder económico, sensacionismo, atenção dos media, promoção do turismo, novas tecnologias, novos materiais, cultura, entre outros ) aliada aos dois Pritzkers e outros grandes mestres da arquitetura nacional são razões pelas quais o país é visitado por estrangeiros vindos de toda a parte do mundo.

Em dezembro de 2021, surge a intenção de promover o reconhecimento da arquitetura portuguesa através do programa Turismo & Arquitetura. Este novo produto turístico nasceu da parceria entre o Turismo de Portugal e a Casa da Arquitetura – Centro Português de Arquitetura, e tem como principal objetivo divulgar a herança arquitetónica e cultural do país através de um atlas digital e interativo, promovido numa série de eventos a nível nacional e internacional.

Para o programa será criado um itinerário por regiões com sugestões de visitas a locais que tenham edifícios icónicos, reabilitações, edifícios premiados, obras de arte em espaços públicos e referência a obras contemporâneas e emblemáticas de arquitetos de renome. No atlas digital irão constar 50 edifícios de referência, com possibilidade de pesquisa por autor, categoria e itinerário através do Visit Portugal e no site da Casa da Arquitetura.

O património arquitetónico é um dos principais ativos turísticos dos países. Esta forte cumplicidade entre o turismo e arquitetura é uma relação win-win para ambos os lados. De acordo com a Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, a uma entrevista à revista VISÃO “As arquiteturas artísticas e monumentais, integradas na envolvente, determinam a apetência turística de um lugar e impulsionam a valorização da oferta de fruição pelos territórios”. Desta forma, é também possível comprovar a influência da arquitetura na valorização dos alojamentos turísticos.

Após uma recolha de sete amostras de alojamentos turísticos – cinco hotéis e dois alojamentos locais – projetados por mestres de arquitetura conhecidos e merecedores de prémios de arquitetura e design, verificamos que estes espaços apresentam preços por noite mais elevados que outros alojamentos turísticos no local com as mesmas características. Além disso, verifica-se que hotéis projetados por arquitetos conhecidos apresentam uma categoria de excelência: entre 4 e 5 estrelas.

Hotéis

Casa do Rio Quinta do Valado

Prémio Nacional de Arquitetura em Madeira 2019

Atelier/ Arquitecto: Menos é mais

Categoria: 4 estrelas

Quartos: 6

Localização: Foz Coa

Ano de abertura: 2015

Preço por noite médio (2pax): 260€

 

Hotel Casa do Conto & Tipografia

Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2020

Atelier/ Arquitecto: Pedra Líquida

Categoria: 4 estrelas

Quartos: 10

Localização: Porto

Ano de abertura: 2019

Preço por noite médio (2pax): 150€

 

Hotel São Lourenço do Barrocal

Melhor Hotel Ibérico 2021 nos prémios “Readers’ Choice Awards”

Atelier/ Arquitecto: Souto de Moura Arquitectos

Categoria: 5 estrelas

Quartos: 24

Localização: Herdade do Barrocal, Monsaraz

Ano de abertura: 2016

Preço por noite médio (2pax): 425€

 

Casa de São Lourenço – Burel Panorama Hotel

Atelier/ Arquitecto: Site Specific Arquitectura +

P-06 Atelier

Categoria: 5 estrelas

Quartos: 21

Localização: Manteigas

Ano de construção: 1940 pelo Arq. Rogério de Azevedo e design interior da artista Maria Keil do Amaral

Ano de reabertura: 2018

Preço por noite médio (2pax): 260€

 

Quinta da Comporta – Wellness Boutique Resort

Prémio “The International Hotel & Property Awards 2020”

Atelier/ Arquitecto: Miguel Câncio Martins

Categoria: 5 estrelas

Quartos: 49

Localização: Comporta

Ano de abertura: 2019

Preço por noite médio (2pax): 330€

De acordo com a amostra, concluímos que a ADR (Taxa média diária) de hotéis premiados consegue ter em média um “premium” no valor cobrado de 51% em relação a hotéis com características e localização semelhantes embora não premiados, sendo que o gap é ainda mais notório em zonas como o Douro e o Alentejo e menos notório em centros urbanos ou locais já por si com uma oferta hoteleira com valores acima da média do mercado (Comporta). Para esta análise foram considerados vários fatores como a localização, categoria, número de quartos, amenities disponíveis, data de construção e abertura e o tipo de facilities de cada alojamento.

Alojamento Local

Pink House

Prémio de Arquitetura “Paulo Gouveia” 2018

Atelier/ Arquitecto: Mezzo Atelier

Quartos: 3

Capacidade Máxima: 6 pax

Localização: Fajã de Baixo, Açores

Ano de abertura: 2017

Preço por noite (6 pax): 340€

 

Pátio do Meco

Prémio de Arquitetura da plataforma internacional online “Architizer A+ 2019”

Atelier/ Arquitecto: Fabio Ferreira Neves

Quartos: 4

Capacidade Máxima: 8 pax

Localização: Aldeia do Meco

Ano de abertura: 2018

Preço por noite (8 pax): 505€

Foram também analisados dois alojamentos locais premiados. A desigualdade de preços não é tão relevante como a verificada em hotéis, no entanto, observa-se uma diferença média de 21% superior face ao valor da ADR dos alojamentos locais não premiados. Foram consideradas características como localização, capacidade máxima, número de quartos, data de construção e abertura e comodidades.

A influência que a arquitetura e o património de um país exercem sobre o sector do turismo é evidente em diversas formas, tornando-se um meio para a resolução de dois grandes dilemas no turismo: a visibilidade e popularidade de várias regiões (descentralização) e a sazonalidade dos destinos.

Ana Serra, Analyst at Aura REE Portugal