“Talant de Bien Faire” – João Fonseca – Perito Avaliador de Imóveis – MRICS, REV, CMVM

João Fonseca – Perito Avaliador de Imóveis – MRICS, REV, CMVM

Numa revista “Visão” de março deste ano li com muito interesse uma entrevista, excelente, ao novo Presidente da Assembleia da Républica. Não posso deixar de transcrever as duas partes que mais me marcaram, relacionadas com a sua experiência de trabalho enquanto Ministro da Defesa:

“Confirmei que as Forças Armadas são uma instituição muito singular, com disciplina, eficiência, organização, lealdade, clareza. …. Essa lógica de clareza – se não é claro, é-se ainda mais claro – é essencial porque, no caso da tropa, pode significar uma vida.”

“Quando tomei posse, o Jorge Sampaio, que fazia o favor de ser meu amigo, chamou-me e disse-me “Você vai trabalhar com o melhor que o País tem! Como Presidente, aprendi a admirá-los”. Ele era um civilista como eu e jamais esqueci outra coisa; é a única instituição deste País em que você pode dizer “vamos fazer isto às 11:43 horas”. E faz-se!”

A minha passagem pela instituição militar, em cumprimento do serviço militar obrigatório, deu-se na Marinha de Guerra Portuguesa, como Oficial da Reserva Naval. Foi um período da minha vida que jamais esquecerei, em particular a minha passagem pela Escola Naval.

A divisa da Escola Naval é “Talant de Bien Faire” e foi adotada em homenagem ao Infante D. Henrique, aliás está gravada no seu túmulo. Significa, como bem explica Augusto Salgado no livro “Escola Naval – Talant de  Bien Faire”, “talante, desejo ou vontade de bem fazer, e exorta a um esforço pessoal de perfeição.”

Se estivesse aqui a descrever a minha passagem pela Marinha de Guerra não me chegavam dez crónicas nem algumas lágrimas furtivas de saudade, tal o meu entusiasmo e a minha nostalgia. Interessa-me antes reforçar que aqueles valores atrás enunciados, – disciplina, eficiência, organização, lealdade, clareza – e a vontade de bem fazer, que eu lá apreendi, são fundamentais para que a minha vida como “sole practitioner” não seja um autêntico Cabo das Tormentas!

Um “sole practitioner”, ou uma “sole practitioner”, na gíria do RICS, é um perito avaliador de imóveis, ou uma perita avaliadora de imóveis, que reúne um conjunto de características muito específicas:

-É um técnico especialista ou técnica especialista quando tem que elaborar os seus trabalhos de avaliação.

-É um técnico comercial ou uma técnica comercial, quando tem de procurar os seus clientes, num mercado muito exigente e concorrencial;

-É um técnico administrativo ou uma técnica administrativa, quando tem que tratar de um conjunto vasto de burocracias. Elaboração de propostas, emissão de faturas, controle de recebimentos, tratamento de obrigações fiscais e legais…;

-É um técnico ou uma técnica em constante evolução, quando tem que investir na sua formação pessoal e profissional.

-Tem uma enorme responsabilidade, que é a solidão das suas decisões.

Além de tudo isto, é um ser humano com deveres de cidadania e com família.

O “sole practitioner”, ou a “sole practitioner”, trabalha por conta própria, não está ligado a nenhuma empresa, mesmo que preste serviços a várias empresas.

Este conjunto de características transporta-os para uma dimensão de incerteza, em que tem num dos pratos de uma balança a sua liberdade e no outro a sua necessidade de sobrevivência.

Se por um lado a liberdade faz inveja a quem tem um horário a cumprir, em que o correr dos dias é uma monotonia irritante, por outro lado tem a pressão de não saber o que o amanhã lhe reserva, quanto à continuidade de trabalho que lhe permita a sua tranquilidade existencial.

Quem tiver tido a paciência de me ler até este ponto, há de julgar que eu me queixo da vida que levo. Afinal, tantas coisas para um homem só!

Engana-se quem assim pensar.

Há duas coisas de que este “sole practitioner” não dispensa e que lhe dão uma força suplementar para superar todas as dificuldades: liberdade e diversidade.

É dono do seu tempo. Para ele, um dia nunca é igual ao outro.

Com disciplina, eficiência, organização, lealdade, clareza – e a vontade de bem fazer, a vida corre.

(Este artigo foi escrito no dia 20 de maio. Neste dia, em 1498, Vasco da Gama chegou a Calecute, na Índia. Neste dia, comemora-se o Dia da Marinha.)