“Quando cai a chuva na cidade”

Na noite de 12 para 13 de Dezembro, as cheias na Grande Lisboa causaram danos humanos e materiais incalculáveis. O cenário de inundações após chuva intensa e consequentes constrangimentos aconteceu em todo o território continental, no entanto a cidade de Lisboa foi a região mais afetada do país. Os distritos de Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém foram os mais castigados pela chuva persistente e intensa que originou o caos, causando milhares de ocorrências, entre inundações, cortes de estradas e quedas de árvores.

Em Portugal, no passado mês choveu num curto espaço de tempo cerca de um quarto do que é habitualmente registado durante um ano inteiro. São raras intensidades que bateram recordes de precipitação, o que se torna preocupante numa cidade como a de Lisboa, dado que a intensidade da chuva em tão curto período de tempo torna-se ainda mais perigosa quando ocorre conjugada com fenómenos, que se podem tornar dramáticos, como a maré alta. Pelas características de baixa permeabilidade do solo, as zonas urbanas podem sofrer mais com chuvas tão intensas.  De momento, além de todos os danos causados, uma das maiores preocupações é a de que fenómenos como este podem acontecer com cada vez mais regularidade, sobretudo em zonas urbanas, como é o caso da cidade Lisboa que tende a ficar pautada com esta futura realidade.

Contudo, existem algumas soluções para reduzir estes efeitos, como o impacto em terra que pode ser minimizado através da permeabilização dos solos e de mecanismos mais eficazes de escoamento das águas. Lisboa transformou-se numa cidade muito impermeabilizada o que ajuda a exponenciar o problema. É necessária e urgente uma preparação do território para estes e outros fenómenos extremos, sendo que a má planificação urbana e falta de ordenamento do território dão origem a uma cidade incapaz neste âmbito. A política de ordenamento do território tem um papel indispensável e fundamental na promoção da qualidade dos espaços urbanos e da complementaridade entre os diferentes usos do solo.

Com centenas de habitações e atividades económicas a serem prejudicadas pela chuva, há que pensar em soluções mais céleres. Assim, a Câmara Municipal de Lisboa apresentou o Plano Geral de Drenagem da cidade (PGDL), a obra com conclusão prevista para 2030 visa reduzir os riscos de inundações devido à precipitação extrema. Com valor de investimento estimado em 250 milhões de euros, o projeto destina-se a controlar as águas pluviais de forma a reduzir os riscos de cheias e inundações em Lisboa, mitigando os previsíveis efeitos das alterações climáticas.

O plano tem prevista a construção de dois túneis subterrâneos, com cerca de cinco metros de diâmetro, para escoamento da pluviosidade. Um dos túneis irá ligar Monsanto a Santa Apolónia terá cerca de cinco quilómetros e um outro, com cerca de um quilómetro, ligará Chelas ao Beato.

E no que diz respeito ao mercado imobiliário, como isso interfere na valorização de um imóvel e na escolha de áreas para novos empreendimentos? Quais podem ser as soluções para melhoria desse cenário? Se ao projetar um empreendimento, são priorizadas áreas que não coloquem em risco a estrutura das edificações, se uma área tem mais risco de chuvas ou deslizamentos, é possível que ela demore a ser ocupada pelo mercado imobiliário. No entanto, pode sempre existir uma colaboração entre poder público e o setor privado para ocupação de determinadas áreas, onde são realizadas obras, com os parâmetros previstos nas normas técnicas, de forma a evitar futuros alagamentos ou riscos para os futuros moradores e ocupantes. Vivemos em cidades projetadas há muito tempo e iniciativas como as do município de Lisboa podem melhorar algumas infraestruturas e até mesmo incentivar a uma revisão do urbanismo da cidade, com uma maior redução de riscos.

A centralidade, a localização geográfica e o acesso a transportes são alguns dos principais critérios na procura de habitação. Dentro destas mais valias encontram-se a zona de Alcântara em Lisboa e de Algés, Oeiras, que foram e habitualmente são das mais fustigadas sempre que ocorrem este tipo de condições climatéricas extremas. No entanto, em qualquer um dos casos, o valor por metro quadrado mantém os lugares do topo no ranking das avaliações, como tal não se espera quaisquer alterações tanto na procura de imóveis em determinadas zonas, como nos preços praticados. Quanto a isto, é melhor tirar o cavalinho da chuva!