Pandemia provoca quebra de investimentos imobiliários na Europa durante o primeiro trimestre

Nível de atividade de investimento em ativos imobiliários durante os primeiros três meses ficou significativamente abaixo dos números registados no mesmo período de 2020.

Os principais fatores que contribuíram para a descida do volume de investimentos imobiliários nos primeiros três meses do ano foram as restrições à mobilidade interna e internacional e as imposições de confinamento. De acordo com um estudo recente, que abrangeu 19 mercados europeus, da consultora imobiliária internacional Savills, os dados revelaram que a impossibilidade de visitar ativos imobiliários foi uma das principais causas das quebras verificadas no setor

Durante o primeiro trimestre, o volume de investimentos imobiliários totalizou 52,7 mil milhões de euros, uma diminuição de 42 por cento face ao mesmo período de 2020 e de 18 por cento face à média dos últimos cinco anos. No entanto, o primeiro trimestre de 2020 registou um volume de investimento inédito, nas vésperas da declaração de pandemia por parte da Organização Mundial da Saúde, em março desse ano.

O mercado europeu em que se registou um maior nível de captação de investimento imobiliário no primeiro trimestre, foi na Alemanha, não obstante a queda de 47 por cento em comparação ano-ano, representando 30 por cento do total de investimentos no setor.

O Reino Unido surge em segundo lugar, representando 25 por cento do volume total de investimentos em imobiliário na Europa durante o primeiro trimestre do ano, registando, no entanto, uma quebra de 34 por cento em análise ano-ano.

Segundo o estudo, os mercados europeus mais pequenos, fortemente dependentes de capital estrangeiro, categoria na qual se insere Portugal, sofreram as maiores quebras na região, registando quedas superiores a 80 por cento do volume de investimento.

Os Estados Unidos da América foram a principal fonte de capital de investimento imobiliário na Europa nos primeiros três meses de 2021, contabilizando cerca de 40 por cento do capital total investido no mercado europeu. Em geral, o investimento vindo de fora da Europa representou 57 por cento do volume total, mostrando uma tímida redução face aos 59 por cento do primeiro trimestre do ano passado.

O primeiro trimestre revelou uma reorientação dos focos de investimento imobiliário. Surgiu assim, um apetite crescente por segmentos alternativos, como é o caso do setor de living, no qual se incluem o segmento multifamiliar e residências para estudantes e dedicadas ao público sénior.

Segundo Nuno Esteves, Investment Development Associate da Savills Portugal, “O ano arrancou com um 1º trimestre de dinâmica moderada. Ainda que com restrições na mobilidade num contexto internacional, os investidores continuam a identificar Portugal como um destino apetecível nas suas intenções de investimento e numa aplicabilidade deveras transversal, considerando a diversidade dos perfis de risco dos investidores e as classes de ativos disponíveis. Se a este apetite aliarmos o levantamento das restrições de mobilidade pelo avanço do plano de vacinação, iremos certamente verificar uma intensificação da atividade de investimento em propriedade comercial.”

Quanto aos escritórios, durante o primeiro trimestre, os investimentos neste segmento caíram pela primeira vez desde 2015, passando de uma representação de 35 por cento do volume total de investimentos imobiliários para 27 por cento. Em Portugal, os investimentos em escritórios diminuíram mais de 80 por cento entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2021, sendo que essa quebra ficou pela ordem dos 70 por cento quando comparada com a média dos últimos cinco anos.

No que concerne ao setor do retalho, este segmento viu reduzida a sua parcela do investimento imobiliário total para 9 por cento, ficando pela primeira vez abaixo da fasquia dos 10 por cento.

Porém, o setor da logística viu a sua porção de investimento subir para 44 por cento do total, fruto do crescimento do e-commerce durante os períodos de confinamento.

No ramo da logística, foi possível observar uma notória transformação. Um segmento que nunca antes havia sido capaz de captar mais do que 12 por cento do volume total de investimentos imobiliários, conseguiu, neste primeiro trimestre alcançar uma porção de 44 por cento do total de investimentos. Este aumento de interesse fez subir o nível de competição entre investidores e fez descer as yields para níveis inéditos.

Nuno Esteves salienta ainda que “Particularmente no setor de alternativos, como o senior living e multifamily, observamos a chegada de novos investidores com conceitos evoluídos e que trazem know-how das suas operações noutras localizações, encontrando em Portugal um mercado ávido destes produtos, pese embora a falta de legislação específica, como também de comparáveis. Antecipamos que a entrada destes investidores também induzirá a potenciais Joint-Ventures com entidades locais, que possam aportar valor pelo seu conhecimento sobre a dinâmica de processos inerentes a cada ativo, fornecendo maior conforto ao investidor internacional.”