O modelo de negócio de franchising na Mediação Imobiliária em Portugal, sempre foi um modelo de sucesso que tem vindo a contribuir fortemente para a evolução da atividade de mediação imobiliária em Portugal.
Contudo, e apesar de terem existido empresas de franchising nacionais e de origem europeia a entrar e testar o mercado português, foram sem dúvida as marcas norte-americanas que vingaram, e a ainda hoje se posicionam na liderança deste modelo de negócio e do próprio mercado, com destaque para o sector residencial.
A razão pela qual se destacam, terá possivelmente a ver com a enorme experiência que estas marcas já traziam (muitas delas já com mais de 50 anos de presença no mercado internacional), mas também por, em alguns casos, terem iniciado o seu negócio a partir de uma ideologia empreendedora e logo em modelo de franchising devido à influência dos seus países de origem.
Contudo, e apesar do sucesso incontestável de visibilidade, muitas redes são alvo de críticas, nomeadamente no que diz respeito à qualidade de serviço que algumas das agências e agentes prestam, porque afinal, não nos podemos esquecer que apesar de serem uma só marca, são empresas que agem com independência jurídica, financeira e algumas vezes até operacional dependendo da rigidez das normas e dos modelos.
A verdade é que uma só agência ou agente pode prejudicar o bom nome da marca, ou rede se não seguir o sistema e controlar a sua atuação. Não é fácil, até porque o serviço de mediação imobiliária é prestado maioritariamente de forma independente e fora de um espaço físico (loja, escritório…), o controle de operações torna-se num ponto crucial e num dos maiores desafios para os Master Franchisings que são os detentores e também defensores da marca.
Outra questão importante é que o negócio da empresa de franchising não é diretamente o da mediação imobiliária, é sim o de desenvolvimento de serviços de apoio a profissionais e empresários da mediação, que são quem realmente detém a licença para operar (licença AMI) e que por sua vez desenvolvem e obtêm resultados de negócios de transação imobiliária.
O papel do Master é claro: desenvolver e cuidar da sua marca garantindo sempre níveis de notoriedade e reputação elevados dentro da área de atuação para captar interesse de investimento. Como já referi, também têm o dever de apoiar os empresários que aderiram à rede e para levarem a cabo a sua missão, são normalmente remunerados através de uma percentagem sobre a faturação dos seus fraqueados, ou até um ou mais montantes fixos.
No caso da mediação, este ganho para os Masters tem de se traduzir no fornecimento de serviço para os franchisados, serviços de suporte e apoio à atividade nas seguintes áreas: Marketing; Formação; Consultoria; Branding; Tecnologia; Estatística, entre outros. Tem também uma parte arbitral que serve para garantir que as regras de funcionamento do networking da sua rede são cumpridas de acordo com o sistema operacional definido e aceite por cada um dos seus franqueados.
O modelo de franchising é um modelo de sucesso, no entanto, a evolução da atividade de mediação imobiliária nos últimos anos trouxe grandes desafios, que a meu ver, surgem para ajudar todas as empresas que operam neste modelo de negócio a pensar no cliente e a adaptar a sua oferta às necessidades atuais dos seus franchisados:
- O negócio de mediação imobiliária é cada vez mais independente e organizado em clusters. Novos modelos de prestação de serviços de empresas especializadas em apoiar empresas de mediação estão a surgir e não necessitam de passar pelos Masters pois são modelos de negócio que se adaptam a várias dimensões;
- A tecnologia acelerou e alavancou novos modelos. Os espaços físicos, a formação ou serviços dedicados diretamente a agentes imobiliários surgem em formas diferentes e próximas;
- Com a massificação evidente da atividade, assiste-se cada vez mais à evolução da Marca Pessoal dos Agentes Imobiliários. Podem criar o seu próprio negócio sem estarem necessariamente dependentes de uma loja, agência ou mesmo marca;
- Alguns franqueados começaram a desenvolver-se em clusters dentro da rede de franchising. Adaptam e customizam o sistema e serviços de tal forma que acabam por não ver relevância nos serviços que lhe são prestados e optam por sair da rede para criarem a sua própria rede, que em alguns casos poderá não ser sequer em regime de franchinsig.
Na minha opinião, o sistema de franchising para a Mediação Imobiliária ainda é bastaste válido, porém, para perdurar no tempo vai requer dos Masters uma relevância e evolução de oferta de serviço a uma rapidez que hoje se impõe e que tem pontos nevrálgicos nas seguintes áreas:
- Operação. A falta de apoio experiente, relevante e constante aos seus franqueados poderá fazer com que haja uma clara tendência de saída para procurarem novas formas mais eficazes e principalmente eficientes de apoio operacional ao seu negócio e equipas;
- Formação. Apesar do e-learning ser uma evidente tendência nesta atividade, a ausência de formação presencial de qualidade, poderá trazer frustração face ao valor pago e recebido. A capacidade de transmissão de conhecimento pode ser um ponto altamente diferenciador e um atrativo para a escolha de uma ou outra marca;
- Tecnologia. O desfoque e a não adoção de tecnologia útil para o user como sistemas all in one, onde tudo se gere a partir de uma única aplicação de gestão para agentes e franqueados, pode ser o início do fim;
- Procedimentos de Atuação e Regras. A ausência, ou a abertura constante a exceções ou mudanças repentinas, criam frustração, destabilização e descredibilização da rede e do seu networking, basilar para uma empresa de franchising de mediação imobiliária;
- Modelos rígidos. A incapacidade de ser humilde, ágil e célere quando o mercado muda, só leva a que algumas verdades absolutas se tornem no bastião da inabilidade de evolução da rede, ou da própria marca. Muitas vezes quando se leva tempo a reagir, o timing perde-se.