“Os centros comerciais de hoje já não são apenas e só as catedrais de consumo do passado” – Sandra Campos, Partner, Head of Retail, Cushman & Wakefield

O futuro do retalho e os impactos que teve na sequência da mudança de comportamento do consumidor no último ano e meio, são temas que têm estado na ordem do dia dos principais assuntos do imobiliário e o Brainsre News Portugal tem vindo a publicar a opinião de alguns dos maiores players do setor.

Sandra Campos, Partner, Head of Retail, Cushman & Wakefield, faz uma breve panorâmica do mercado e explica a sua visão para o futuro do retalho e dos centros comerciais.

Os vários segmentos do imobiliário sofreram mudanças desde o início da pandemia, o que considera que mudou no retalho?

Durante os vários períodos de confinamento e à medida que os bloqueios aceleraram, testemunhámos um crescimento sem precedentes nas vendas online. Foi visível um extremar de posições entre retalhistas que tiveram um impulso enorme nas suas vendas por terem canais mais próximos dos “consumidores confinados” – Online, Omnicanal e proximidade – e os que sofreram quebras avultadíssimas nas suas vendas.

A quebra do consumo não foi transversal a todos os setores do retalho e em muitos casos registaram-se aumentos significativos nas vendas por via das prioridades do momento. São bons exemplos as atividades de alimentação, desporto, lar, cuidados com a saúde e animais de estimação que demonstraram que os consumidores mesmo estando confinados não perderam hábitos de consumo, mudaram foi o foco e o canal

Em Portugal, o sucesso do programa de vacinação trouxe uma confiança aos consumidores, que embora de uma forma cautelosa, retomaram os seus hábitos de consumo com especial enfoque na área da restauração.

Como avalia o mercado de retalho nos dias de hoje?

O retalho é um sector muito maduro, altamente profissionalizado e de grande resiliência. Hoje estamos perante um maior nível de serviço, totalmente focado no consumidor uma vez que o setor soube reagir rapidamente às alterações dos padrões de compra direcionando todos os seus canais para aumentar a proximidade ao cliente final, satisfazendo as suas necessidades de consumo.

Muito embora possa ter havido uma procura latente de bens não essenciais que foi adiada, a verdade é que os consumidores Europeus têm uma poupança acumulada de mais de €450 biliões, o que cria as condições perfeitas para uma forte recuperação liderada pelo consumidor a partir de 2022.

Após o início da pandemia surgiram novas necessidades e dificuldades no mercado, quais foram as principais e de que forma afetaram o segmento de retalho?

As dificuldades mais prementes couberam aos retalhistas ao tentarem não perder os seus pontos de venda nem as suas equipas. Esta tarefa só foi possível com o contributo dos proprietários, que fizeram parte da solução e não do problema.

Do lado das necessidades, era crucial não perder o contacto com os clientes. O reforço da presença online exigiu a reinvenção de muitos negócios que usavam a sua pegada digital meramente para fins institucionais e de comunicação mais do que como canal de vendas. Tudo isto culminou numa reinvenção das suas operações, transformando as lojas em pontos logísticos para home delivery, take away, canais digitais e redes sociais.

Neste último ano e meio o comércio de rua começou a ganhar uma nova vida, neste contexto poderá o comércio local beneficiar em relação às grandes superfícies e ditar o futuro dos centros comerciais e retail parks?

Já antes da pandemia era notório o papel importante desempenhado pelo comércio de proximidade. A pandemia veio reforçar o fator conveniência e é previsível que se mantenha e ganhe até uma nova dinâmica.

É importante enfatizar que estes formatos são complementares e o consumidor, em diferentes momentos, é transversal a todos eles.

Sendo Portugal um país com uma enorme oferta de centros comerciais, qual será o futuro e as tendências do comércio neste segmento?

São espaços que terão papel mais preponderante enquanto espaços de lazer e experienciais, não perdendo aquilo que está na sua génese, que é a facilidade de compra por concentrar em si uma oferta muito diversificada, o estacionamento, a gestão profissionalizada e os horários alargados.

Com todas estas alterações a acontecer no comércio, continuarão os centros comerciais a ter o êxito que tinham?

Os centros comerciais que se souberem reinventar, que se aproximarem do consumidor e responderem às suas necessidades vão continuar a desempenhar um papel preponderante no panorama do comércio.

Os centros comerciais de hoje já não são apenas e só as catedrais de consumo do passado. A sua oferta diversificada, que vai desde a saúde ao lazer, bem como todas a características que lhe são inerentes, exponenciam o seu poder de atração.