Filipa Muñoz de Oliveira viveu fora de Portugal durante alguns anos e quando regressou há 14 anos, trouxe com ela uma nova ideia de negócio. Preencheu com a marca Wiñk uma lacuna de mercado no nosso país e passado pouco mais que esta primeira década, tem já 38 lojas abertas de norte a sul do país e algumas fora de Portugal. A empreendora conquistou o público feminino com esta técnica de fazer sobrancelhas, o threading, que ainda muitas mulheres não experimentaram e que Filipa Munõz de Olveira não dispensa, ao ponto de abrir o seu próprio negócio por uma necessidade, no seu regresso de Londres.
Quando abriu a primeira loja, Filipa não fez planos de negócio nem implementou estratégias, só após perceber o que realmente tinha em mãos é que começou a pensar mais além.
Em entrevista ao Brains re News Portugal, Filipa Muñoz de Oliveira conta-nos como surge a ideia e os planos para o futuro.
Como surge a ideia da marca Wiñk?
Surgiu por uma necessidade minha, por necessidade própria. Vivi em Londres e uma vez passei num shopping e vi umas senhoras indianas a arranjar as sobrancelhas com linha e eu que sempre tive dificuldade em arranjar sobrancelhas olhei e nem percebi como faziam aquilo e uma senhora árabe explicou-me que era assim que as arranjavam e disse-me para experimentar, isto foi há mais de 14 anos. Experimentei e como adorei, até hoje não voltei a fazer de outra maneira. Esta foi a minha primeira experiência e a ideia da Wiñk surge quando o meu marido recebeu uma proposta de trabalho para voltar para Portugal. Um dia estava sentada a fazer as sobrancelhas, quando pensei como é que no regresso faria o mesmo em Lisboa, porque o conceito ainda não existia no nosso país. E foi nesse momento que pensei que tinha que trazer algo assim para Lisboa. Quando decidi tive que pensar em imensas coisas, na marca e de algo que nasceu de uma necessidade minha e de um encontro de circunstâncias.
Existiram alguns planos de estratégia para o negócio?
Não, na altura foi mesmo uma forma de solucionar o meu problema, quando percebi que era uma lacuna que existia no mercado. percebi que ia correr bem e decidi experimentar, abrindo a primeira loja nas Amoreiras. Ao fim de pouco tempo, percebi que ia efetivamente ter sucesso e tive logo outra oportunidade para abrir no Saldanha e de seguida no Vasco da Gama e foi a partir dessa altura que começámos a pensar um pouco mais no sentido de que tinha pernas para andar e seria efetivamente um negócio. Acabámos por fazer um plano de shoppings onde gostaríamos de estar, mas fizemos sempre tudo com muita calma, até porque a minha filha era pequena, depois tive outro filho e fiz tudo ao ritmo que a minha vida me permitia. Fomos crescendo sempre de forma muito sustentável. A partir daí já tínhamos planos para Espanha, para o Brasil, com o objetivo de evoluir no negócio.
Pioneira em Portugal e só com 14 anos no mercado, como explica o sucesso para ter já 38 espaços abertos de norte a sul do país, além das lojas nos outros países?
Em primeiro lugar, penso que tivemos alguma sorte no sentido em que não existia nada assim no mercado português, logo aí fomos os pioneiros e não havia comparações, éramos os melhores e quanto a mim continuamos a ser os melhores e tivemos também a sorte porque entrámos numa altura de crise, em que não havia grandes capacidades de investimento e conseguimos logo fechar muito bem os melhores locais nos shoppings. Por outro lado, somos muito exigentes com a parte da formação, não só com a parte técnica, mas também com o atendimento, a forma de estar, somos mesmo muito exigentes quanto a isso, porque queremos que as nossas clientes tenham uma experiência sempre que vão a um dos nossos espaços.
Para além disso todos os nossos procedimentos, a loja, os materiais que usamos nas nossas lojas, desde a iluminação ao chão, forma tudo uma experiência diferenciadora em relação à maior parte dos sítios e temos cuidado com esses detalhes. Penso que são estes fatores que marcam a diferença e que são um pouco o segredo do nosso sucesso, que as nossas clientes se sintam cuidadas.
Quais os principais desafios no negócio durante a pandemia e neste período em que começamos a sair do confinamento?
No início da pandemia foi muito difícil, porque não sabemos o dia de amanhã e gerir um negócio ao dia é muito difícil. Na altura tomei a decisão de fechar as lojas, mesmo antes dos shoppings fecharem, quando as escolas também fecharam e percebi que não existam as mínimas condições, nem me sentia bem eticamente e dizer às colaboradoras para irem para as lojas, quando eu já estava em casa com os meus filhos. Foi nessa altura que falei com os recursos humanos e disse que mesmo não sabendo o dia de amanhã, que no dia seguinte já não íamos abrir e na altura senti que foi uma decisão correta, mesmo sendo uma decisão muito difícil de tomar, todas as nossas clientes nos apoiaram e as nossas colaboradoras também. Tive duas semanas muito difíceis, depois percebi que tínhamos que reagir e começar a estruturar a reabertura, tive que pensar como voltaríamos a trabalhar com todos os cuidados necessários que este negócio exige.
Foi uma altura muito complicada, tivemos que fazer uma formação online, com um vídeo para mostrar às colaboradoras como iriam trabalhar no regresso às lojas. Tivemos que pensar nos procedimentos que teríamos em loja, porque já usávamos anteriormente luvas e desinfetantes e tínhamos que perceber o que passaríamos a usar. Foi um desafio para toda a equipa, obrigou-nos a ser criativos, a reagir, a sair da zona de conforto, tínhamos que abrir a loja em condições de segurança para trabalhar e manter a confiança das nossas clientes.
Hoje em dia, este segundo desconfinamento foi muito mais fácil que o primeiro, as clientes já sabiam ao que iam, nós tínhamos já uma forma diferente de trabalhar, as pessoas estavam desejosas de sair. Consigo fazer um balanço positivo, tanto na adaptação das nossas colaboradoras, como das nossas clientes que já sabem como funcionamos.
No início foi quase toda a equipa para layoff, na reabertura houve contratos que não conseguimos renovar, porque nem tínhamos espaço para colocar todas as pessoas em loja. Agora com este regresso, temos tido imensa dificuldade em contratar e não é só nesta área de negócio, porque não encontramos pessoas para trabalhar. Não sei se houve muitos emigrantes que voltaram para o país, pessoas que podem estar com subsídios de desemprego e estão a gozar o verão, mas não estamos mesmo a conseguir contratar. Não acredito que esteja relacionado com qualquer medo instalado devido à pandemia.
Existem projetos em mente para o futuro?
Neste momento temos um projeto de expansão em Espanha, abrimos agora uma loja e temos mais duas em pipeline. O nosso grande foco é crescer em Espanha, tínhamos até agora só duas lojas, uma em Vigo e outra em Madrid e esta terceira também em Madrid. Temos também uma parceria com o El Corte Inglês e vemos nesta parceria uma oportunidade para expandir ainda mais o negócio. Temos também uma possibilidade em Valência, mas prefiro primeiro fechar áreas, fechar as zonas, para não ficar com as lojas muito dispersas.
Estamos a crescer bem no Brasil, estamos também a trabalhar com uma empresa que nos está a ajudar a planear a expansão, porque o mercado brasileiro é muito profissionalizado na parte das franquias e tem um enorme potencial de crescimento, mesmo estando numa fase tão difícil.
Como ouviu falar da EO (Entrepreneur’s Organization) e o que a fez ser membro?
Conheci há alguns anos através do Miguel Santo Amaro, sabia que ele fazia parte desta organização. Sabia também que era uma organização americana que reunia vários empresários, nomeadamente empreendedores, mas não sabia muito mais. Nunca pensei muito em envolver-me neste tipo de organizações, até que comecei a necessitar de outro tipo de apoios e outro tipo de aprendizagens e fui convidada nessa altura para um evento internacional da EO que se ia realizar no Estoril e acabei por ir. Fui e gostei muito das pessoas que conheci, gostei dos oradores e percebi que era uma ferramenta que me ia ajudar a crescer tanto a nível pessoal, como profissional.
O que é que a organização acrescentou à sua vida pessoal e profissional?
A nível profissional temos um enorme apoio, partilha de experiências, partilha de ajuda e até partilha de dores que todos os empreendedores têm e que nem sempre conseguem partilhar com as equipas. Mas ao mesmo tempo vi uma possibilidade de crescimento pessoal, a nível do networking que se faz que nos possibilita conhecer pessoas de todo o mundo, temos acesso a cursos de óptimas universidades, a talks de speakers incríveis, toda esta experiência me fez pensar que deveria fazer parte da organização. Eu e a Chitra Stern somos as únicas mulheres em Portugal, fui a segunda a inscrever-me como membro.
O que pensa que será necessário para atrair mais mulheres para a organização?
Estamos numa busca intensa, penso que as mulheres culturalmente são óptimas com as amigas, fazemos os nossos grupos, mas profissionalmente as mulheres não são muito focadas para o networking profissional, não têm tanto este tipo de pensamento. Parece-me que as mulheres não estão despertas para este tipo de organizações. E é esse esforço que fazemos, explicar que para o seu crescimento pessoal e para o negócio delas é benéfico, existem imensos negócios que podem crescer sendo membro da EO.