O Turismo vai voltar, mas os NPLs também

Durante a crise económica Portuguesa, o crescimento galopante dos non-perfoming loans (“NPLs”) até ao rácio de 17,5% tornou-se num dos maiores desafios estruturais da banca portuguesa. Não obstante da performance excecional do sector do turismo português, que até 2019 bateu inúmeros records a cada ano, a existência de NPLs com um peso significativo neste sector que continuam, até ao dia de hoje, generalizados.

Durante os anos de crise, os bancos portugueses reduziram significativamente o crédito ao setor não financeiro. De janeiro de 2011 a fevereiro de 2020, o crédito em aberto para estas sociedades diminuiu cerca de 42%, de 114,4 mil milhões de euros para 66,4 mil milhões de euros. Por outro lado, o crescimento expressivo do setor de turismo permitiu-lhe manter o nível de crédito pendente praticamente inalterado com variações máximas de concessão de crédito até 5% até abril de 2020. Verifica-se ainda que desde 2016, a variação anual do crédito concedido sector do alojamento e restauração tem sido sistematicamente superior à verificada na globalidade do sector não financeiro.

No fim do primeiro trimestre de 2020, a pandemia COVID-19 causou uma paragem em toda a atividade global e as medidas consideradas necessárias para conter o vírus, desencadearam uma forte desaceleração económica e ainda hoje, passado um ano do primeiro caso em Portugal, ainda há uma grande incerteza sobre as suas consequências reais e duração.

O sector do turismo não foi exceção e é incontestavelmente um dos mais afetados, tanto pela restrição de viagens internacionais como o bloqueio interno a deslocações entre concelhos e ao próprio funcionamento regular dos estabelecimentos. Desde o início da pandemia até janeiro de 2021, o endividamento deste sector aumentou 27,2% o que aliado ao já existente rácio de incumprimento pré-existente no sector, um dos mais elevados, irá constituir um agravamento do aumento do rácio de NPL do sector como um todo.

Se por um lado para mitigar um crescimento exponencial do rácio de NPL é necessário apoiar as empresas que anteriormente vinham a apresentar propostas de valor de qualidade no sector, por outro é necessário garantir que a atribuição de crédito seja feita com mais critério e qualidade, melhorar o atual ineficiente sistema legal e continuar com a colocação de carteiras NPL no mercado com processos transparentes afastando as coberturas mediáticas que assistimos durante o ano de 2020. 

No meio da falta de clarividência global e incerteza pandémica sobre o futuro a curto e longo prazo, há uma certeza: o rácio de NPL vai aumentar em Portugal, incidindo especialmente nos sectores mais afetados, como é o caso do sector turístico.