“O que é Digital e O Que Não É ainda Digital”

João Garcia Barreto, Head of National Business na Aura REE Portugal

“É bom ver o avanço tecnológico”, penso para mim. Basta perceber pelo Marketing Digital, os nossos perfis nas redes sociais, estejamos ou não relacionados com o respectivo sector, são bombardeados com anúncios de gente sábia que vende conselhos como investir na bolsa, no imobiliário, na concessão e de transferência de créditos e até em música. Na verdade, vivemos numa era em que os jovens sabem tudo através do “google” ou “Wikipédia”. Tudo acontece na internet. Lemos livros, escutamos música, compramos comida, adquirimos imóveis, consumimos seja o que for através de plataformas digitais, mas o nosso país continua a anos de luz em comparação com outros países. Tudo é bem-vindo, mas só peca por ser tardio. Ora vejamos.

Não vamos mais longe. “Nuestros hermanos” têm tudo informatizado há seguramente mais de 10 anos e já ninguém faz declarações de IRS. Só pressionam o “enter” após verificação dos dados. Em Portugal, isso está mais próximo de acontecer, é verdade, mas é ainda uma miragem no deserto. Somos o país do “simplex” ao mais alto nível. Ludibriam-nos com malabarismos orçamentais com fórmulas do “dá e tira ao mesmo tempo”, mas o dito avanço tecnológico ficou só no “Simplex”. Claro que imensa coisa melhorou, não quero ser ingrato, mas o cadastro total do país está ainda por fazer e os fogos nas regiões do Interior foram já há mais de 5 anos, quando o governo falou pela primeira vez que teria de ser realizado investimento cadastral, a começar nas áreas atacadas. Em Espanha, vamos ao google earth e conseguimos verificar todo o cadastro dos imóveis. Basta escolher um edifício sito numa determinada rua e, logo, sabemos qual o n.º do seu registo e artigo matricial e quanto paga de imposto municipal os moradores do respectivo prédio.

As escrituras (que são públicas) continuam por ser informatizadas. “Quer-se dizer”, as escrituras resultantes de transacções de imóveis estão na posse das Finanças, mas não estão para consulta pública, estão nos confins dos confins de lugares remotos. No entanto, deveriam estar informatizadas para consulta de quem necessita da informação para efectuar o seu trabalho, sobretudo trabalho ligado ao sistema financeiro que requer, ainda bem, supervisão, transparência, idoneidade e seguro de responsabilidade civil, tendo em conta os danos que pode causar uma bola na trave. Claro que teriam de ser ocultados os dados pessoais por questões de privacidade, mas certos dados das transacções (como área, tipo de imóvel, preço de venda) poderiam estar já informatizados para a transparência do mercado imobiliário. Para determinar um valor de mercado, um avaliador necessita de ter conhecimento das últimas transacções efectuadas na zona onde o imóvel avaliado se situa.

Não vamos outra vez mais longe. As avaliações imobiliárias têm sentido o avanço tecnológico, os tão falados AVMs (Modelos Automatizados de Avaliação). Existem vários modelos automatizados e dependem não só da qualidade da informação como do conhecimento de quem os formata. Os ditos AVMs em Espanha apresentam quase nulas margens de erro, o que não acontece ainda em Portugal, onde a informação não é tão clara e transparente. Em Portugal, a maior parte das empresas que operam modelos automatizados de avaliação não contêm imóveis transaccionados e são, por conseguinte, pouco robustos. No caso da AURA REE, a sua plataforma contém os dois tipos de preços, preços de imóveis em oferta e preços de imóveis transaccionados (tanto em Espanha como em Portugal), o que permite dar mais robustez aos nossos modelos, além do know-how do factor humano, competente em avaliação, que é usado para apurar os mesmos e, voltando ao início do artigo, o avanço tecnológico é sempre bem-vindo e, por conseguinte, os AVMs também o são. No entanto, a sua utilização tem de ser naturalmente moderada. O Mundo tende a melhorar – esquecendo a triste parte de que persistem ainda regimes totalitários – e a tecnologia é parte integrante da sua evolução constante (juro que não quis rimar).