Por esta altura estará a fazer três anos que fui admitido na Royal Institution of Chartered Surveyors, que todos conhecemos por RICS.
Em qualquer profissão, a ambição de progredir na carreira deve nortear o esforço de todos os profissionais. Concretamente, na profissão de perito avaliador de imóveis, pertencer ao RICS é a consumação máxima dessa ambição. Ser membro do RICS é um objetivo de qualquer perito avaliador de imóveis, servindo como uma espécie de reconhecimento das suas capacidades, enquanto profissional do imobiliário. É um caminho árduo, mas compensador.
Neste primeiro artigo que escrevo para a “Brainsre.news” gostaria de fazer um balanço do que é ser membro RICS. No entanto, não pretendo que este balanço seja feito numa esfera estritamente profissional, de relato daquilo que conseguimos obter, enquanto membros de uma comunidade que faz da partilha a sua missão. Assim, espero conseguir refletir sobre os valores da instituição que, de uma forma porventura inconsciente, a instituição incute na minha vida enquanto cidadão.
Portanto, a questão é muito clara: O RICS tem impacto na minha vida pessoal?
Este impacto pode ser analisado em três planos distintos: ético, disciplina e organização pessoal e ainda causas sociais.
No processo de candidatura ao RICS, o candidato deve ter aproveitamento num exame sobre ética, em que tem de responder acertadamente a, pelo menos, setenta e cinco por cento das questões colocadas. Depois, durante a entrevista de admissão, é questionado fortemente sobre os padrões éticos que vêm plasmados nos diversos documentos ao seu dispor.
A ligação central de cada membro à instituição é o famoso “Red Book”, o Livro Vermelho. Este livro tem um capítulo onde dedica parte ao que deve ser o comportamento ético de um profissional, em consonância com a “International Ethical Standards Coalition”. Esta organização, à qual o RICS aderiu, estabelece um conjunto global de princípios éticos por forma a criar um padrão internacional de ética, que seja transversal a toda a fileira do imobiliário.
Complementarmente, existem outras publicações obrigatórias para qualquer membro, como, por exemplo, as “Regras de Conduta RICS” ou “Conflitos de Interesse”.
Como podemos verificar, o RICS dá muita importância aos comportamentos éticos e morais dos seus membros, e faz com que eles, mesmo inscientemente, os transportem para o seu dia a dia. Muitas vezes, perante situações difíceis e tensas, da minha vida privada, penso qual seria a atitude mais correta e assertiva a tomar, tendo em conta os padrões éticos do RICS. De facto, e de uma forma mais ligeira, costumo dizer que conto sempre até dez antes de dar uma resposta, numa situação de stress. No fundo, no nosso subconsciente permanece uma espécie de grilo falante, que nos indica qual é o procedimento mais correto a tomar.
Uma das regras do documento “Regras de Conduta RICS” é o “Ethical behaviour”, que diz “Members shall at all times act with integrity and avoid conflicts of interest and avoid any actions or situations that are inconsistent with their professional obligations”. No fundo, o que tento transportar para a minha esfera pessoal é aplicar esta frase, substituindo “professional obligations” por “privacy obligations”.
Existem, no entanto, outras dimensões em que ser membro RICS nos ajuda.
Nós aprendemos no RICS que não devemos dizer que cumprimos os regulamentos, nós temos é que provar que cumprimos os regulamentos. Um exemplo muito simples tem a ver com o sanar de conflito de interesses. Não basta dizer que não permito conflito de interesses na minha atividade profissional, eu tenho é que provar que tenho um procedimento que verifique a existência ou não de conflito de interesses.
Naturalmente, esta disciplina que nos é incutida tem repercussões muito positivas na nossa atividade diária. Posso afirmar, sem exagero, que o RICS transportou para a minha esfera particular mais competências de organização e disciplina. Só assim é possível eu exercer a minha profissão, como “Sole Practitioner”, em que sou ao mesmo tempo técnico, comercial, administrativo, e, cumulativamente, dedicar-me à escrita em blogues e, claro está, ao meu indispensável exercício físico semanal.
Finalmente, a importância que o RICS dá a questões de igualdade de género, causas sociais e causas ambientais. Quando vejo que o RICS tem políticas efetivas de apoio à igualdade de género, que rejeita qualquer forma de racismo, xenofobia ou homofobia, ou que tem uma agenda para a sustentabilidade, não posso deixar de as transportar para a minha prática diária.
No início deste artigo questionei-me se ser membro RICS mudou a minha vida. A resposta é afirmativa, claro.
Ser RICS é uma forma serena de estar na vida.