O mercado imobiliário na era digital

Com as mudanças de hábitos impostas pela pandemia, o imobiliário viu-se obrigado a entrar num novo normal e embarcar numa era ainda mais digitalizada.

Se a passagem do “analógico” ao “digital” começou a vingar nos últimos anos, o novo coronavírus Covid-19, veio acelerar o processo da necessidade de mais e melhores meios tecnológicos. A velocidade dos bits tornou-se o braço direito do mercado imobiliário. Os clientes tiveram que se adaptar a uma nova realidade, que alterou as formas de consumo, fator que desencadeou uma gigantesca importância na tecnologia e também no aumento na procura de imóveis desde o início deste flagelo, vivido a nível mundial.

As medidas restritivas e o isolamento social alavancaram todas as mudanças vividas nos vários setores da economia, o mercado imobiliário não foi exceção, que se adaptou a esta nova realidade de forma a manter o seu funcionamento, apostando cada vez mais em tecnologia. Foi, então, necessário procurar novas formas de inovar, alterando a dinâmica do setor e tornando todas as ferramentas mais rápidas e eficazes, surgindo assim um novo desafio no mercado.

As promotoras tiveram que se moldar às alterações comportamentais do consumidor. Não podemos esquecer que à medida que os novos confinamentos iam surgindo, com a impossibilidade de sair de casa e o receio que se instalou na população em geral, limitou as visitas presenciais aos imóveis e por consequência os processos de compra e venda. Esta condição originou novos formatos de negócio, nomeadamente com as visitas virtuais que possibilitavam e facilitavam o processo da compra.

O ano de 2020 ficou assim marcado pelo aparecimento de inúmeras startups no mercado imobiliário, com a utilização de várias tecnologias que já eram inclusivamente usadas noutras áreas de negócio. Surgiu a necessidade de investimento em plataformas certificadas que visam agilizar o trabalho dos mediadores, transmitindo confiança e qualidade ao consumidor. Podemos assistir ao desenvolvimento de várias promotoras imobiliárias no uso de imagens, vídeos, visualização do espaço em tempo real através de uma camara e visitas online, que permitem que os compradores particulares ou investidores possam aceder a todos os detalhes dos imóveis, desde a sua arquitetura, ao tipo de tipologia, aos matérias usados, à própria dinâmica dos espaços.

Surge assim cada vez mais a PropTech (Property Technology) como um trunfo do imobiliário, conceito que consiste na aplicação de tecnologias de informação inovadoras que têm como objetivo apoiar particulares ou empresas na pesquisa, gestão, compra e venda de ativos imobiliários. No entanto, estará o mercado imobiliário preparado para esta transformação tecnológica, para a mudanças de mentalidade e atitude dos compradores? A resposta torna-se mais simples quando pensamos nas várias áreas de negócio, em que só existirá essa preparação se a mudança e adaptação forem atempadamente pensadas e o mais céleres possível. A ajuda das PropTech irá transformar ainda mais este segmento se existir um reforço na evolução tecnológica e da informação. Os players mais tradicionais são obrigados a reinventar-se e impulsionados por esta necessidade de dinâmica de trabalho, podem assim, posicionar-se como prestadores de um bom serviço destacando-se das empresas concorrentes.

No entanto não nos podemos esquecer que ao mesmo tempo que a pandemia avançou, as relações humanas acabaram por diminuir, como antes as conhecíamos e podemos encontrar aqui um entrave até mesmo com o acesso a toda esta nova vertente tecnológica. A procura por imóveis pode agora fazer-nos ganhar tempo no nosso dia-a-dia, existindo quase um processo de rastreio e exclusão daquilo que gostamos ou não. Nesse aspeto, a tecnologia veio exponenciar o processo de escolha, faltando, no entanto, a interação humana.

Se por um lado temos grandes investidores ou fundos de investimento que compram imóveis essencialmente pela rentabilidade, temos por outro os clientes particulares, que não pensam no ativo por estes fatores financeiros, mas acima de tudo como sendo um sonho ou um objetivo de vida (lado emocional). É essencialmente neste fator que o paradigma da tecnologia, embora agilize o processo de eleição do imóvel, pode travar os processos de compra e venda.

Os consumidores particulares pensam sobretudo, para além do preço do imóvel, em toda a dinâmica do espaço, tendo a necessidade da visita presencial, como meio para vivenciar o espaço como parte integrante do seu “futuro”, humanizando assim a mera transação comercial, e este aspeto só se consegue com a empatia criada entre o comprador e o vendedor. A mediação imobiliária é feita por pessoas e para pessoas e é nesta base que a tecnologia pode ser um obstáculo, não obstante o fato de ser uma mais-valia incontornável no setor e cada vez mais importante e indispensável.