O impacto do conflito bélico no mercado imobiliário

Uma guerra tem sempre efeitos devastadores em todos os sectores da sociedade, contudo o atual conflito que pode prejudicar muitos países, pode também beneficiar a península Ibérica, devido à sua localização.

Recentemente publicámos um artigo nesta seção sobre o impacto que o conflito bélico poderia trazer no setor do turismo em Portugal.  Concluímos que muitos países a nível mundial sairão prejudicados no que respeita a questões políticas, sociais e económicas. O mercado financeiro também sofre uma significante queda, numa época em que nenhum setor económico escapa ao palco de uma guerra que está continuamente a somar mortos e feridos.

Após dois anos a lidar com uma pandemia sem precedentes nos nossos tempos, quando há uns meses começávamos a sentir o regresso à normalidade, surge na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia, que traz efeitos ainda difíceis de aferir. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia evoluiu, fazendo com que os players do mercado estejam cada vez mais atentos aos negócios mobiliários. As consequências desta luta são cada vez mais evidentes, com a queda das bolsas, com a escalada dos preços do petróleo e do gás e consequentemente o aumento das matérias-primas e do custo de vida.

Toda esta inflação e sanções económicas provocadas por esta luta sem fim à vista terão repercussões diretas na captação de investimento estrangeiro. Nos últimos anos, a Rússia tem tido um papel importante no investimento imobiliário em Portugal. De acordo com os dados do Serviços de Estrangeiro e Fronteiras (SEF), a Rússia é um dos cinco países que mais investem em território nacional, pelo menos, desde 2019.  Os investidores russos foram responsáveis por aplicar em Portugal, através dos vistos gold, mais de 35 milhões de euros em 2019, mais de 37 milhões em 2020 e quase 34 milhões em 2021.  Valor que pesou entre 5% e 7% no investimento estrangeiro total que chegou ao país. Entre 77% a 89% da finalidade deste investimento foi para aquisição dos bens imóveis.

No final do mês de fevereiro, logo após o início do conflito, a União Europeia aprovou um regime de sanções a ser adoptadas contra a Rússia, com o voto favorável de Portugal. Entretanto, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras suspendeu a apreciação de candidaturas para autorização de residência e investimento para cidadãos russos. A incerteza é muito grande no que diz respeito ao alcance deste impacto, mas é de prever que Portugal não sairá ileso desta luta, que como qualquer outro conflito internacional terá repercussões na captação de investimento estrangeiro, principalmente oriundo de países europeus.

Também a escalada dos preços da energia e o aumento das matérias-primas, como referido anteriormente, trará enormes consequências que já se verificavam com os aumentos dos últimos anos, originando uma maior subida nos preços da construção. Ainda na passada semana, o Instituto Nacional de Estatística dava conta que em abril os custos de construção de habitação nova subiram 14,3% em termos homólogos, tendo o mês de abril registado mais 2,7 pontos percentuais que o observado em março. Também em maio foram divulgados os resultados do Portuguese Investment Property Survey, apresentados pela Confidencial Imobiliário e pela APPII – Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliários, em que os custos de construção aumentaram 18%, representando um obstáculo à promoção imobiliária. De acordo com o inquérito aos promotores imobiliários, o mercado da promoção imobiliária começou o ano 2022 de forma muito positiva.  No entanto, as expetativas dos operadores para o 2º trimestre de 2022 são menos otimistas, influenciadas pela antecipação de uma quebra no número de vendas.

Com o agravamento dos custos na construção, também este setor sofre efeitos diretos devido à escassez de mão-de-obra e matérias primas, assim como o aumento dos preços dos materiais. Inevitavelmente, todos estes fatores aliados à escassez de oferta e um bom índice de procura, resultam no aumento dos preços das habitações, que tem sido uma constante ao longo dos últimos anos.

No entanto, parece que nem tudo é negativo e o espírito optimista que impera nos promotores imobiliários mostra a força e resiliência do mercado imobiliário português, principalmente em situações de crise, como ficou provado durante a pandemia. Uma guerra tem sempre efeitos devastadores em todos os sectores da sociedade, contudo o atual conflito que pode prejudicar muitos países, pode também beneficiar a península Ibérica, devido à sua localização. Prevendo-se um movimento de investimentos para zonas menos expostas ao conflito bélico, como é o caso de Portugal.