João Fonseca – Perito Avaliador de Imóveis – MRICS, REV, CMVM
As notícias diárias da pandemia estão a esfumar-se e as preocupações estão a ficar longe. Afinal temos três doses de vacina, os nossos velhos estão protegidos, os hospitais estão com menor sobrecarga e existem camas suficientes.
Estava tudo a compor-se. Aqueles países onde a pandemia ainda causa verdadeira preocupação estão longe e, não tendo notícias deles, está tudo bem. Temos o nosso problema resolvido.
No imobiliário também.
Talvez por isso, o RICS resolveu retirar os alertas que estavam em vigor desde julho de 2021, nomeadamente:
-Retirada da nota explicativa das condições de mercado COVID-19;
-Retirada da prática geral de avaliação e recomendações relacionadas com o COVID-19;
-Retirada da redação sugerida de incerteza material relacionada com o COVID-19 (tradução do autor):
“A pandemia COVID-19 e as medidas para combatê-la continuam a afetar as economias e os mercados imobiliários em todo o mundo. No entanto, à data da avaliação, os mercados imobiliários estão a funcionar com volumes de transações e outras evidências relevantes em níveis em que existem evidências de mercado suficientes para fundamentar as opiniões de valor. Consequentemente – e para evitar dúvidas, a nossa avaliação não é relatada como estando sujeita a ‘incerteza de avaliação material’, conforme definido por VPS 3 e VPGA 10 da Avaliação RICS – Padrões Globais.
Esta nota explicativa foi incluída para garantir transparência e fornecer uma visão mais aprofundada sobre o contexto de mercado em que o parecer de avaliação foi elaborado.”
No entanto, o RICS alerta que mercados específicos podem reagir de maneira diferente à situação do COVID-19 e os avaliadores devem refletir as condições específicas de cada mercado nos seus trabalhos.
Como já foi referido, a incerteza material da avaliação, como regra geral, deixa de existir. Já existem suficientes evidências de avaliação na maior parte dos mercados, que melhoraram substancialmente desde o impacto inicial do COVID-19 em 2020.
No entanto, em casos muito limitados, a incerteza material de avaliação relacionada com o COVID-19 pode permanecer e os membros regulamentados do RICS considerarão as circunstâncias em que uma declaração de incerteza material é apropriada.
Esta matéria está explicada na VPGA 10 do RICS Global Red Book. A diretriz do RICS faz notar que a VPGA 10 se refere a fatores de mercado “relativamente únicos” e, por exemplo, “um conjunto sem precedentes de circunstâncias nas quais basear um julgamento”.
A inclusão de “incerteza material” é uma decisão do perito avaliador regulado pelo do RICS, que devem incluir uma justificativa sólida para explicar a sua decisão, e isso deve ser registado para memória futura, quer nos termos de contratação, quer no relatório de avaliação.
A pandemia estava a terminar, o imobiliário continuava pujante, apesar de alguns sinais de inflação, da subida de preços da mão-de-obra e da falta de materiais.
Eis quando acontece o absurdo, uma guerra.
Conta a lenda que Troia estava cercada, para lá de dez anos, sem que os gregos a conseguissem tomar. Os gregos construíram um enorme cavalo de madeira, recheado de soldados que abandonaram diante das muralhas de Troia. A mensagem era que fingindo abandonar a guerra, os gregos retiraram-se para uma ilha próxima, deixando o cavalo como oferenda a Atena, deusa protetora de Troia. Os troianos recolheram o presente e, durante a noite, os guerreiros que estavam dentro dele abriram as portas da cidade para a entrada do exército grego, que massacrou os troianos.
Espero que a Ucrânia não seja Troia.
Nesta guerra, os cavalos de Troia chamam-se misseis hipersónicos “Avangard”, são disparados a seis mil quilómetros de distância e atingem a velocidade de Mach 27, ou seja, 27 vezes a velocidade do som.
Esperemos que o bom senso das partes prevaleça e que se consiga alcançar a Paz.
Por agora vamos continuando a assistir a horrores em direto.