“O dinamismo registado no segmento de luxo não é surpreendente” – Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX Portugal

Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX Portugal

Perante um grave problema de habitação em Portugal, o tema surge cada vez mais na ordem do dia e principalmente nas últimas semanas. O Brainsre News Portugal convidou Beatriz Rubio, CEO RE/MAX Portugal, para falar sobre este tema controverso, com uma evidente desproporção entre a procura e a oferta.

A responsável nasceu em Espanha, Saragoza, e está em Portugal há 30 anos. É licenciada em Economia e Gestão de Empresas pela Universidade de Saragoza e tem um MBA pelo IESE, Universidade de Navarra. Beatriz Rubio lidera os destinos da RE/MAX Portugal juntamente com o seu marido, Manuel Alvarez. Um dos seus segredos é a força motivacional que transmite aos seus colaboradores e também em outras organizações onde dá palestras. É uma profissional que trabalha para as pessoas e a sua missão é motivá-las a realizar os seus sonhos e conquistas.

O mercado imobiliário sofreu grandes alterações nestes últimos três anos. Durante este percurso quais as grandes diferenças que se foram sentindo no segmento residencial?

Nos últimos três anos os preços não pararam de subir em grande parte resultado de uma oferta cada vez mais escassa (tanto em quantidade como em diversidade) face a uma procura reforçada por um aumento do interesse dos investidores estrangeiros.

Nos mais recentes dados divulgados pela RE/MAX, com um claro cenário de dinamismo no segmento de luxo, como explica este expressivo aumento numa altura em que as taxas de juro estão em constante subida e a inflação em alta?

O dinamismo registado no segmento de luxo não é de todo surpreendente, pois esta fração do mercado é a menos sensível aos aumentos dos preços e das taxas de juro. Tradicionalmente, os segmentos de luxo em qualquer setor económico são os mais resilientes face ao acréscimo das dificuldades financeiras, e o setor do imobiliário não é exceção. Por outro lado, está, sim, mais dependente das condições que o país como um todo oferece, como o nível de atratividade de investimento estrangeiro, estabilidade política e social ou segurança, e nestes indicadores, Portugal apresenta muito bons índices.

O que se espera do mercado imobiliário em 2023 e quais os principais desafios? Portugal mantêm-se como atração para investimento imobiliário?

É esperada uma certa contração do mercado, motivada pela diminuição da procura que se encontra alicerçada no crédito à habitação e no rendimento disponível. Porém, já noutros contextos, o investimento imobiliário revelou ser uma excelente opção na aplicação de capitais, designadamente durante o período pandémico, pois existem fatores que o tornam atrativo a médio/longo prazo e que suplantam as dificuldades acrescidas no curto prazo. Se conjugarmos estes dois aspetos, conseguimos compreender o porquê de os especialistas anteciparem uma estabilização dos preços, com subidas/descidas não muito significativas consoante as zonas, assim como a manutenção da atratividade do investimento estrangeiro pois esta depende sobretudo de muitas variáveis estruturais como o clima político-social, a segurança, a tributação, a abertura do país ao exterior, a modernização do setor dos serviços, entre outras.

Com as medidas anunciadas pelo Governo para combater a crise na habitação, estas medidas podem realmente trazer mais habitações para o mercado? Quais são para si as soluções para mitigar a diferença entre a procura e oferta no mercado de arrendamento?

O nosso mercado é pautado por uma forte escassez de oferta e os preços têm subido nos últimos anos, porque o desfasamento face à procura aumentou. Forçar a redução da procura impõe uma diminuição da própria dimensão do mercado, ou seja, significa nivelar a atividade do mercado pelo menor dos lados. Assim, a melhor alternativa para se alcançarem preços mais equilibrados é, naturalmente, aumentar a oferta: a RE/MAX defende medidas de apoio e incentivo à construção nova e à recuperação/reintegração do parque habitacional devoluto, uma simplificação dos processos de licenciamento ou até mesmo uma revisão em alta de alguns benefícios fiscais. Arrendar é, em determinadas situações, uma alternativa a comprar, pelo que quaisquer medidas impactantes num dos mercados, irá ter repercussões no outro. Na verdade, a conjuntura é demasiada complexa para ser solucionada num curto espaço de tempo, exigindo um conjunto alargado e interligado de várias medidas, mas que, sucintamente, promovam o aumento do número de habitações disponível.

No pacote “Mais Habitação” uma das medidas destacadas é o fim da concessão de novos Vistos Gold. Que consequências trarão o término do programa?

Os Vistos Gold têm sido erradamente apontados como os responsáveis pela falta de habitação em Portugal e pela subida dos preços. O número de imóveis adquiridos ao abrigo deste programa não terá atingido sequer 1% dos imóveis transacionados nos últimos 10 anos, pelo que o seu impacto foi, na realidade, muito limitado. É indesmentível que faltam habitações para compra e para arrendamento, mas a “culpa” não é dos estrangeiros que adquirem imobiliário no país, mas sim da falta de construção nova e seu licenciamento. Para se ter uma ideia, entre 1996 e 2005 licenciaram-se um milhão de casas em Portugal, enquanto que nos últimos 10 anos, apenas 150 mil. O fim dos Vistos Gold comportará, assim, uma diminuição do investimento internacional, mas terá pouco impacto na resolução do problema da habitação.