O dia em que caiu o Carmo e a Trindade

No passado 1 de novembro foi o dia em se que completou mais um ano sobre a data de um acontecimento histórico.

O dia em que caiu o Carmo e a Trindade. Uma expressão muito usada quando algo nos provoca grande surpresa, confusão e até mesmo quando receamos consequências graves de causas que aparentemente podem não ter importância. Porém, a origem deste provérbio é de uma enorme importância histórica e remonta ao ano de 1755, aquando do terramoto que abalou no Dia de Todos os Santos e que mudou de figura a cidade de Lisboa, resultando na destruição quase completa da capital. O Carmo e a Trindade eram dois dos mais importantes conventos, nas duas áreas que constituíam a antiga freguesia lisboeta do Sacramento, uma das mais prejudicadas nesta célebre data, além de praticamente toda a área que hoje é ocupada pela Baixa Pombalina.

Lisboa mudou de figurou há 266 anos atrás, quando Portugal sentiu o maior e mais avassalador terramoto de que há memória. Embora os números sejam ainda hoje contraditórios, estima-se que o sismo tenha atingido magnitudes entre 8,7 e 9 na escala de Richter, sendo um dos sismos mais mortíferos da história, fez certamente mais de 10 mil vítimas mortais em Lisboa, que não conseguiram fugir às derrocadas, ao fogo e à água que invadiu o Terreiro do Paço. O sismo foi seguido de um maremoto, que pode ter atingido 20 metros de altura e de múltiplos incêndios que duraram 6 dias, com fogos que destruíram alguns dos edifícios mais icónicos de Lisboa. O sismo, o tsunami e os incêndios que se seguiram destruíram 85 por cento dos edifícios de Lisboa. Além do terramoto e da água que invadiu Lisboa, existe também uma explicação para os incêndios, pois a tragédia que ficou na história aconteceu na manhã do Dia de Todos os Santos, comemoração que levou às igrejas milhares de pessoas. Era um dia frio, muitas lareiras das cozinhas tinham ficado acesas, bem como muitas velas em homenagem aos mortos, o que naturalmente originou a propagação de vários fogos durante as derrocadas.

O património também foi afetado, mas algumas estruturas mantiveram-se de pé, calcula-se que tenham ficado destruídas ou danificadas 32 igrejas, 60 capelas, 31 mosteiros, 15 conventos e 53 palácios. Lisboa ficou praticamente devastada na manhã do dia de 1 de novembro, no feriado de Todos os Santos. Na Baixa, ruíram edifícios importantes como o Teatro da Ópera, o Palácio Real e o Arquivo da Torre. No entanto, a casa mais antiga de Lisboa que conta com 500 anos, resistiu ao terramoto e existe ainda no bairro de Alfama, onde a maioria das casas construídas antes do terramoto se mantiveram de pé. Os números 20 e 22 tornaram-se uma relíquia dos tempos anteriores à calamidade de 1755, fica na Rua dos Cegos, junto à Rua de São Tomé. Os sólidos alicerces da casa quinhentista na colina mais alta da cidade terão sido os responsáveis por mantê-la de pé.

 O terramoto que é considerado como um dos mais violentos na história da humanidade, destruiu grande parte de Lisboa e outras cidades portuguesas na costa do Alentejo e do Algarve. Mas nem todos os edifícios desapareceram no dia 1 de novembro de 1755, pelos bairros históricos de Lisboa, como a Mouraria, Alfama e Bairro Alto, onde ainda encontramos edifícios anteriores àquele trágico dia. Edifícios que mesmo não tendo uma qualidade artística muito elevada, encantam pela sua arquitetura medieval.

Na altura do terramoto, o Rei D. José I e a corte encontravam-se nos arredores de Lisboa. Tal como o rei, Marquês de Pombal, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e futuro primeiro-ministro, também sobreviveu àquele fatídico dia. D. José I desejava uma cidade nova, ordenada com grandes avenidas e praças largas que viriam a marcar a planta da nova cidade. O ministro e o rei propuseram os projetos aos engenheiros reais e arquitetos e em menos de um ano depois do terramoto já não se encontravam a capital ruínas e os trabalhos de reconstrução iam adiantados. Caiu o Carmo e a Trindade, mas Lisboa continua de pé.