“Não vendas o teu Ferrari” – João Fonseca – Perito Avaliador de Imóveis – MRICS, REV, CMVM

00João Fonseca – Perito Avaliador de Imóveis – MRICS, REV, CMVM

Achará o leitor despropositado que, em pleno Outono, eu venha escrever sobre as minhas leituras de férias de verão. Mas permita-me relembrá-lo que não vai assim tanto tempo que gozamos o nosso merecido descanso e também que deve atender que o processo de escrita é preguiçoso e demora o seu tempo a ficar pronto.

No meu caso particular acho que nunca fica pronto, porque assim que é publicado eu fico zangado comigo, achando que poderia ter sempre escrito melhor.

A minha leitura de férias foi muito ligeira.

Poderia estar aqui a efabular como aquelas pessoas muito eruditas, que respondem a inquéritos de verão, proporcionados por jornais ou revistas. Caricaturando, foi assim que eu soube que uma figura pública teve tempo para ler nas suas curtas férias todo o espólio da Biblioteca Palácio Galveias e outra não teve tempo para ler coisa nenhuma, porque tinha muitos dossiers para pôr em dia.

Eu fui muito mais modesto, li o “O Monge que vendeu o seu Ferrari” e, empurrado pela minha Mulher, devota de Saramago, comecei a ler o “Ensaio sobre a Cegueira”.

O livro “O Monge que vendeu o seu Ferrari” é de autoria de Robin Sharma e inclui-se nos livros de autoajuda que pululam nos escaparates. É um curioso diálogo entre Julian, no regresso da sua redenção, e um antigo colega do escritório de advocacia, John.

E é sobre este último livro que eu quero escrever. Faço-o, porque acho que é de leitura obrigatória para todos os peritos ou peritas que avaliam imóveis. A sua leitura fará com que os meus colegas e as minhas colegas, metaforicamente, não tenham de vender os seus “Ferrari”.

O “Ferrari” de um perito avaliador de imóveis ou de uma perita avaliadora de imóveis é o seu direito a uma existência feliz, responsável e saudável.

O livro é composto por treze capítulos, cada um com a sua mensagem específica. Quando comecei a pensar escrever sobre ele, fiquei inclinado a fazer um pequeno resumo de cada um deles. No entanto, após reflexão, resolvi apenas mencionar duas das passagens que mais me chamaram a atenção.

A primeira passagem tem a ver com sorte, que muitas vezes ouvimos falar que muitos e muitas colegas têm e que nos traz um pouco de inveja. Dizia Julian,

“- O que é a sorte, meu amigo? … – Não passa de um casamento entre a preparação e a oportunidade”.

Numa profissão como a nossa, que se encontra num ponto de viragem, basta lembrarmo-nos das AVM, que estão aí ao virar da esquina, é essencial focarmo-nos na preparação (formação) para podermos aproveitar as oportunidades que, invariavelmente, vão acontecer.

No mesmo capítulo, uma referência a Victor Frankl, “O sucesso, à semelhança da felicidade, não pode ser provocado. Tem de surgir naturalmente….”. E para Julian o segredo da felicidade é bem simples, basta descobrirmos o que gostamos realmente de fazer e apostarmos tudo na sua concretização.

Revisitando o que escrevi há aproximadamente um ano, eu alertei para o inferno que pode ser a vida de um perito ou de uma perita que trabalhe no crédito hipotecário: prazos de setenta e duas horas para iniciar e concluir um trabalho, deslocação ao imóvel para a vistoria, um sem número de processos abertos para despachar, pressão sistemática para que se concluam os trabalhos. Afinal, o cliente bancário não pode esperar, nem que para isso o perito ou perita não possa contar uma história aos filhos, quando se deitam.

A disciplina é fundamental para a nossa atividade e para que possamos ter vida familiar. Também neste aspeto o livro ajuda na descoberta do autocontrolo e da disciplina, como caminho para a sensação de liberdade.

Julian dá um conselho, que eu replico para todos. Repetir pelo menos trinta vezes por dia:

“Sou mais do que pareço ser, tenho toda a força e poder do mundo”.

Talvez assim consigamos inverter a tendência do jogo e passarmos a ter voz verdadeiramente ativa no futuro da profissão. Não sermos menorizados e assistirmos a paternalismos que fingem lutar pelos nossos direitos.

Os nossos direitos devem ser salvaguardados, sem esquecermos que também temos obrigações. E só cumprindo as nossas obrigações podemos exigir os nossos direitos.

Talvez assim não tenhamos de vender o nosso “Ferrari” e desistir.