João Garcia Barreto, Head of National Business na Aura REE Portugal
Após um curto interregno, deixo-vos hoje um artigo sobre o balanço do ano transacto e perspectivas do ano que corre. Não vou fazer um balanço estatístico, isso deixo para quem é perito no assunto. Todavia, falar sobre o passado e o presente é mais fácil do que falar sobre o futuro, pelo menos não temos de adoptar pressupostos especiais.
O ano transacto arrancou com a garra de quem foi abanado pela famigerada pandemia, mas não sucumbiu. 2021 foi também o último ano dos investimentos por via dos Vistos Gold, sobretudo nas áreas da Grande Lisboa e do Grande Porto, mitigado, entretanto, pela trajectória crescente do sector residencial. Dizem os operadores que não há oferta para tanta procura e as casas são transaccionadas quase pelo dobro do que foram adquiridas em tempos da crise financeira. Dizem que os compradores estão a aproveitar os juros negativos. Como diz-se na gíria, está bom para quem comprou barato e quer vender mais alto.
O investimento não cessou nos outros sectores. Apesar da desaceleração gerada pela pandemia, a atividade no imobiliário comercial de rendimento acelerou de novo na segunda metade de 2021. Os sectores industrial e logístico e de escritórios foram mais resilientes e as yields contraíram, o que não se verificou no sector do retalho. É também importante realçar que se mantiveram projectos em pipeline e alguns dos referidos desenvolvimentos já se encontram em fase de conclusão. Ainda bem! A sorte é dos audazes e de quem é persistente e faz boas análises de investimento. No entanto, a incerteza não dissipou-se, mesmo com a resiliência do mercado. No final do ano, pairava ainda alguma desconfiança e as decisões continuavam incertas. As empresas continuam a fazer reestruturações e o teletrabalho veio para ficar.
Por consequência, a avaliação acompanhou o crescimento e as empresas do sector aumentaram a sua facturação. Porém, não foi aproveitado o tempo para uma mudança sobretudo na aplicação de novas reformas na avaliação imobiliária. Os preços por uma avaliação mantiveram-se, a supervisão mantém-se frágil e o sistema informático de reporte financeiro tornou-se ainda mais arcaico. Mau! Estamos ou não num país desenvolvido?! Não, iludam-se! Deparamo-nos ainda com coisas que infelizmente se veem só num país do submundo.
À saída de uma pandemia, houve alguém que achou que a doença não era suficiente para gerar desgraça no Mundo e abalar os mercados. Como as economias não sofreram severamente com a pandemia, Putin demonstrou o adverso. “In a world of Putins, be a Zelensky”. A ver vamos o que suceder-se-á ao mercado. Como dizem nuestros hermanos, “a ver”!
Uma coisa é certa, o introito do ano corrente começou por falar sobre sustentabilidade e eficiência energética. Já era assunto assaz discutido outrora, mas é importante salientar que as normas internacionais de avaliação estão ainda mais focadas nestes aspectos, os quais terão de ser, hoje, mais ainda, considerados na avaliação imobiliária. A sustentabilidade e eficiência energética é, de facto, um assunto extremamente interessante e fulcral na avaliação de imóveis. Queremos o Mundo mais saudável e duradouro e é tempo de pensar nas gerações vindouras. O imobiliário não foge à excepção e já tem acompanhado a mesma tendência, porque querem-se imóveis mais eficientes energeticamente. Mais investimento na eficiência e melhor certificação energética acrescentará indubitavelmente mais valor aos imóveis e isso tem de ser, por conseguinte, considerado nas avaliações. A classificação energética de um determinado activo imobiliário tem de impactar no valor do mesmo.
Ao nível do sector da avaliação, insurgiu-se, neste ano, um movimento de peritos avaliadores de imóveis em luta por melhores preços por uma avaliação para efeitos de garantia bancária. A luta, ou melhor, a discussão e a concertação são bem-vindas, mas a existência do referido movimento revela inércia e inépcia das associações já existentes. Realço novamente a importância da convergência. Como diria o autor Carlos Tê, “muito mais é o que nos une do que aquilo que nos separa” e é mais fácil o diálogo entre duas entidades do que entre mais do que dois organismos.