“Gestão Imobiliária – Tendências e Desafios para esta Era da Informação” – João Correia Gomes, Ph.D., Professor Coordenador e Diretor da Licenciatura em Gestão Imobiliária da ESAI

João Correia Gomes, Ph.D., Professor Coordenador e Diretor da Licenciatura em Gestão Imobiliária da ESAI

Vivenciamos uma era de grande transformação, única na História Humana, comparável até ao advento da agricultura. Observa-se que o modelo económico atual fundado no material perde fulgor perante desafios da ecologia, da tecnologia e redes mais virtuais que alavancam a interação humana de modo mais fluído, rápido, ubíquo e eficiente.

O filósofo Byung-Chul Han (2022) aponta em Infocracia que nos encontramos a deixar o “regime disciplinar” no qual se exploraram corpos (humanos?) e energias (indústrias?) para abraçar um novo “regime de informação” em que se exploram informação e dados. O autor descreve este último regime como o domínio em que a “informação e o seu processamento através de algoritmos e inteligência artificial determinam de um modo decisivo os processos sociais, económicos e políticos. O que é decisivo para conseguir o poder não é, pois, a posse dos meios de produção, mas o acesso à informação, …”.

Este movimento de mudança observa-se em muitos serviços a funcionar com a maioria dos seus colaboradores a trabalhar online, na emergência de nómadas digitais e de aplicativos digitais para gestão dos fluxos das atividades. Surgem novos paradigmas de negócio que, em breve, conduzirão a novos modelos económicos e sociais.

No passado, as grandes transições provocaram reações negativas de quem julgava travar o progresso. Esta era não é diferente. Sempre emergiram conflitos para destruir o que é novo ou sociedades que se isolaram das demais. É inerente à evolução humana, mas o progresso avança. No mundo atual, a reação negativa é de quem depende da venda de matéria-prima ou do controlo da população para manter o poder.

No turbilhão da revolução em curso também os setores do imobiliário e construção não ficarão de fora. São centrais para qualquer economia, pois proveem as infraestruturas e os ambientes essenciais para os agentes económicos operarem, mas sujeitam-se também a reações contrárias. E, os modelos produtivo e de mercado instalados são muito antigos, até esclerosados. Continuá-los só manterá a estagnação da economia.

É evidente que o produto imobiliário tem um eminente caráter tangível que deriva da construção (meio usado para o seu fim que é provisão de ambientes úteis aos utentes). Está condicionado por décadas de prosperidade focada na obra e no crédito bancário, mas que deixou uma cultura com deficiente formação e informação, limitada por obsoleta burocracia publica (informação em papel e carimbo).

Apesar da tecnologia disponível que pode ser importada, a sua aplicação não é efetiva, nem se traduz em novos modelos de gestão e de produção muito mais efetivos quando aplicam a racionalização, digitalização, mecanização, modulação e até a pré-fabricação.

É essencial produzir e gerir o imobiliário acessível à classe média e localizada nos principais centros de criação de riqueza, o que parece ser impossível com os modelos tradicionais de produção (por exemplo construção demasiado cara). Os atuais modelos produtivos continuam a privilegiar o foco na obra física (hardware), mas a desprezar toda a panóplia de atividades de software e humanware como a gestão da informação e equipas ou comportamentos.

Criar elevado valor em imobiliário sé quando for útil para a maioria da população e não limitado a segmentos privilegiados. Requer a prévia mudança cultural para poder implantar as abordagens inovadoras, eficazes e eficientes, como a DEVOPS, e, daí, passar para metodologias baseadas na transformação digital cada vez mais presentes nas economias prósperas.