Custos de construção aumentam 18% e representam obstáculo à promoção imobiliária

O setor mais afetado foi o da reabilitação urbana, que viu a sua quota na carteira de novos projetos diminuir para apenas 10%.

São estes os resultados do Portuguese Investment Property Survey, apresentados na passada sexta-feira pela Confidencial Imobiliário e pela APPII – Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliários. Segundo o inquérito aos promotores imobiliários, o mercado da promoção imobiliária começou o ano 2022 de forma muito positiva.  No entanto, as expetativas dos operadores para o 2º trimestre de 2022 são menos otimistas, influenciadas pela antecipação de uma quebra no número de vendas.

Após um aumento de 18%, os custos de construção são apontados como o principal obstáculo à atividade de promoção, sendo que entre os inquiridos predomina a ideia de aumentar os preços de venda da habitação devido à subida nos custos, concluindo-se ainda que a promoção para a classe média deve ser a mais penalizada.

De acordo com Hugo Santos Ferreira, Presidente da APPII, “É fundamental que todos compreendamos que vivemos um momento único no ecossistema da construção e do imobiliário e é preciso agir. Pela primeira vez, desde que iniciamos este survey em 2020, os custos com a construção são apontados pelos promotores e investidores como o principal obstáculo à atividade da promoção imobiliária”. O responsável acrescenta que “a única forma de compensar esta subida é descer os custos de contexto, nomeadamente através da carga fiscal sobre os imóveis”.

Para Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário, “O Property Survey, realizado pela Confidencial Imobiliário e APPII, colhe o sentimento de mercado por parte dos promotores imobiliários. Os dados mostram que após uma fase de expectativa de regresso à normalidade há novos desafios que têm implicações no mercado. A inflação, desde logo nos custos de construção, passou a ser o maior obstáculo à atividade. Grande parte dos promotores teve já de rever os contratos de empreitada, subindo os custos. Em paralelo, consideram quase inevitável repercutir esse aumento nos preços finais de venda, pondo mais pressão em especial na oferta para a classe média. Este pode ser um momento de viragem num ciclo que se vinha verificando de expansão da promoção imobiliária para mercados mais baratos e orientados para esse tipo de procura”.

Nos primeiros meses do ano, no que respeita a atividade, o Índice de Sentimento situou-se em +43 pontos, atingindo o patamar mais elevado de toda a série do Portuguese Investment Property Survey, iniciada em 2020. A evolução dos preços contribuiu para esse resultado, cujo indicador de sentimento ficou em +57 pontos, subindo 11 pontos face ao trimestre anterior. Esta evolução compensou a perda de 5 pontos verificada no indicador de sentimento quando ao número de vendas, que se situou em +30 pontos. Apesar de permanecer elevado e claramente positivo, este último indicador tem vindo a descer desde o 3º trimestre de 2021.

Quanto às expetativas dos operadores para os próximos 3 meses, correspondentes ao 2º trimestre de 2022, antecipa-se uma quebra no número de vendas, situando o indicador de expectativas em -17 pontos. Mesmo assim, as expetativas quanto aos preços mantêm-se francamente positivas, atingindo +40 pontos e alinhando com o padrão dos últimos três trimestres. No saldo entre preços e vendas, entre o fim de 2021 e o começo de 2022 o índice de expectativas passou de 32 para 12 pontos, caindo 20 pontos.

De acordo com o inquérito, as expetativas mais contidas são visíveis na redução da percentagem de inquiridos que indicam ter novos projetos em lançamento, que neste trimestre atinge os 52%, menos 10 pontos do que no trimestre anterior. Esta quota passou de 79% para 50%, com a pandemia, voltando depois a recuperar para 69% (já no 3º trimestre de 2021). O setor mais afetado foi o da reabilitação urbana, que viu a sua quota na carteira de novos projetos diminuir para apenas 10%, acentuando a perda registada desde 2020.

A procura de terrenos ressentiu-se menos, embora também exibindo uma tendência de redução. No final do ano passado esse era o caso para 61% dos inquiridos, abrangendo agora apenas 56%. Esta procura tem um padrão geográfico cada vez menos centrado em Lisboa, dirigindo-se cada vez mais para as periferias, fazendo com que, pela primeira vez na série deste inquérito, os concelhos em torno de Lisboa concentrem 50% das intenções de investimento na região metropolitana. Este resultado contribui para a queda da quota da reabilitação, havendo uma ligação entre o aumento da promoção fora de Lisboa e o crescimento da atividade no segmento de construção nova.

Outro fator que justifica a redução na carteira de novos projetos em promoção imobiliária é a subido dos custos de construção. Pela primeira vez desde o começo do survey, os custos de construção passaram a constituir-se como o maior obstáculo à atividade da promoção imobiliária. O principal obstáculo tem sido a burocracia e o tempo de licenciamento. No entanto, o aumento de pressão sentida em resultado da guerra na Ucrânia pôs o foco neste fator, agravando uma tendência que já vinha de trás e que fazia deste tema a segunda fonte de tensão para a atividade de promoção.

Em simultâneo, o clima económico passou a constar no leque de maiores preocupações, passando da 7ª para a 3ª posição (a par do “fardo fiscal”), indica o comunicado enviado ao Brainsre News Portugal. No entanto, a falta de procura mantém-se como a menor das preocupações dos promotores. Uma das recentes tendências é a redução na atividade de vendas em planta, eventualmente em resposta à incerteza nos custos de construção.

Neste inquérito, os promotores imobiliários revelaram ainda que os custos de construção cresceram em 18,3% no 1º trimestre de 2022 por comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. Face ao 1º trimestre de 2020, tido como o último “pré-covid”, o crescimento de custos é de 28,9%.  Significando assim, que o ritmo de aumento dos custos de construção duplicou no último ano, passando de uma subida de 9% em 2021 para 18% em 2022.

Com 61% das respostas, presentemente o aumento dos custos decorre da subida dos materiais de construção. Dos operadores inquiridos, 71% teve já de proceder à revisão dos custos das empreitadas contratadas, subindo esses valores em 13,9%. Consequentemente, para dar resposta à subida nos custos, 93% dos promotores dão como provável ou muito provável a necessidade de aumentar o preço de venda das habitações em promoção. Quanto aos projetos em carteira, 65% ponderam a possibilidade adiar o seu lançamento, considerando essa possibilidade como provável ou muito provável.

A maioria dos players de mercado, representando 68% considera que a pressão nos custos de construção afeta ambos os mercados de reabilitação urbana e de construção nova. No entanto, a construção nova parece ser mais afetada, sendo sinalizada por 22% dos promotores, contra apenas 10% para a reabilitação.

O inquérito revela ainda que este resultado parece estar alinhado com o facto de 90% dos promotores não terem dúvidas que o segmento mais afetado será o da promoção para as classes médias (tipicamente localizado em zonas menos centrais e em resultado de obras de construção nova), que será mais penalizado face à oferta para o segmento alto e de luxo (tipicamente mais localizada nos centros e em resultado de obras de reabilitação).