“Construção civil: o tendão de Aquiles do imobiliário?” – Hélio Dias, CEO da Terzzit Investments

Hélio Dias, CEO da Terzzit Investments

Numa altura que a inflação atinge valores record, os juros aumentam e o acesso ao crédito habitação é cada vez mais limitado, como se de um “produto de luxo” se tratasse, o mercado imobiliário começa, inevitavelmente, a sofrer um abrandamento. Mas, será que não estávamos já, neste mercado, a entrar numa crise estrutural e com um desafio bem maior em Portugal? Será a construção civil o tendão de Aquiles da evolução do investimento e desenvolvimento imobiliário?

A construção civil atravessa desafios estruturais e está já a afetar e limitar projetos imobiliários e, consequentemente, a fazer cair o investimento.  Também a oferta no parque habitacional português continua a diminuir. Os desafios no sector da construção civil são grandes e de dificuldade resolutiva acrescida, pois a falta de mão de obra representa um défice de 80 mil trabalhadores (com tendência a agravar-se); o aumento do custo de materiais e matérias-primas que, embora esteja de momento estabilizado, não recuará para valores de há um ano; e, fundamentalmente, a resistência a aceitar e desenvolver uma “nova construção civil” no nosso país, aceitando a industrialização, novos materiais e métodos construtivos (que junto do sector e também do cliente encontram muitas barreiras), um tradicionalismo sem grande sentido em pleno 2022, que nos coloca na cauda da Europa mais uma vez.

Temos de adotar, com a máxima urgência, um plano revolucionário: ultrapassar este desafio, com incentivos e programas de desenvolvimento de empresas do sector; investir no seu processo de industrialização e modernização com metodologias que não só aceleram o tempo de construção, tornando-o três e até quatro vezes menor do que o da construção tradicional; aligeirar a carga fiscal e a burocratização de todo o processo da construção, acabando com meses de espera por uma licença ou um parecer para arrancar com um projeto; repensar a formação, pois não faz sentido que um sector com a importância que a Construção Civil tem na economia não tenha um plano de formação, academias ou escolas, e viva ainda da pedagogia geracional; diminuir o número de metros quadrados por fogo (tendência já verificada por toda a Europa), baixando o custo e permitindo, assim, o acesso de mais pessoas a habitação; e, com alteração de legislação, permitir que mais fogos sejam construídos por projeto, como forma de aumentar o parque habitacional, diminuir o custo, e permitir a mais portugueses a aquisição de imóvel e maior rentabilidade para o construtor que, muitas vezes, é igualmente promotor.

Muitas outras medidas existem e são necessárias para superar este desafio da construção civil e imobiliário e revitalizar o sector, que necessita desta (r)evolução por forma a continuar a ser atrativo para o investimento em projetos imobiliários.